O chanceler japonês Taro Kono está em Moscou para discutir com seu colega russo, Sergei Lavrov, um acordo de paz entre os dois países e o destino das Ilhas Curilas — um arquipélago localizado no Pacífico entre a ilha japonesa de Hokkaido e a península russa Kamchatka.
As ilhas têm sido alvo de uma latente disputa territorial entre os dois vizinhos por décadas, mas seu destino voltou às manchetes depois que Abe e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, concordaram em novembro em intensificar as negociações sobre um tratado de paz.
Moscou e Tóquio encerraram seu engajamento na Segunda Guerra Mundial sem um tratado formal de paz e essa situação não mudou desde então, devido às antigas reivindicações de quatro ilhas russas de Kuril, referidas no Japão como "Territórios do Norte".
Desde então, Tóquio aparentemente fez declarações que não se encaixaram bem com Moscou. O Ministério de Relações Exteriores da Rússia convocou o embaixador japonês nesta semana para expressar suas preocupações sobre o que chamou de "distorção grosseira" da natureza dos acordos recentes entre os líderes das duas nações.
O ministério russo criticou particularmente o fato de que algumas autoridades japonesas disseram que os residentes russos das Ilhas Curilas deveriam ser informados de que algumas ilhas seriam entregues ao Japão, e classificaram a soberania russa sobre o arquipélago como "ocupação do pós-guerra".
O Japão discute ativamente uma perspectiva de recuperar a soberania sobre a parte sul do arquipélago, que inclui a ilha de Shikotan e um grupo de ilhotas menores conhecidas como Habomai, depois que Putin e Abe disseram em novembro que trabalhariam em um tratado de paz baseado no Declaração de 1956 assinada pelo Japão e pela URSS.
O documento, de fato, prevê uma tal transferência de soberania. No entanto, sua formulação é bastante "vaga", como Putin disse uma vez. Ainda assim, a declaração diz que tal movimento só seria possível depois que os dois lados assinassem um tratado de paz. Tóquio, no entanto, sustenta que a disputa territorial deve ser resolvida primeiro.
"Tais afirmações não podem ser vistas como uma tentativa de… aumentar as tensões em torno do tratado de paz e forçar o outro lado a aceitar o plano do Japão de resolver o assunto", disse o comunicado do Ministério de Relações Exteriores, aparentemente referindo-se às especulações do Japão sobre Moscou supostamente concordar em entregar algumas das ilhas disputadas.
A posição da Rússia sobre a questão permanece inalterada, informou o ministério, acrescentando que um tratado de paz entre as duas nações deve basear-se no "reconhecimento incondicional e completo do Japão dos resultados da Segunda Guerra Mundial, incluindo a soberania da Rússia sobre as Ilhas Curilas".
No início de janeiro, Abe anunciou que estava determinado a "pôr fim" à disputa territorial e assinar um tratado de paz com a Rússia em 2019.
Enquanto isso, os legisladores russos estão igualmente determinados a garantir o status das ilhas como parte do território russo. Na última quinta-feira, um dos deputados apresentou um projeto de lei à Duma russa que literalmente tornaria nula qualquer decisão oficial ou documento legal sobre a renúncia das Ilhas Curilas.
"Quaisquer atos legais que visem doar o território das Ilhas Curilas não devem ser ratificados, publicados, postos em vigor ou implementados", diz o projeto de lei. O projeto vem em resposta a uma emenda aprovada pelo Parlamento japonês no verão de 2018, que designou as Ilhas Curilas como parte do território japonês e pediu às autoridades japonesas que façam esforços para "devolvê-las", explicou Sergei Ivanov, o autor do projeto de lei e membro da oposição do Partido Liberal Democrático da Rússia.