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Eleições da Câmara e Senado indicam mudança nos ritos do Congresso, diz analista

As vitórias de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e de Davi Alcolumbre (DEM-AP) para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, respectivamente, consolidam não só a força do Democratas no Congresso, mas um possível novo momento da política brasileira, segundo um especialista ouvido pela Sputnik Brasil.
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A renovação de quase 50% na Câmara e de expressivos 85% no Senado permitiu não só que a vitória de Maia – indo para o seu terceiro mandato no comando da Casa – fosse confirmada, mas também que o movimento "anti-Renan Calheiros" colocasse o controle do Senado nas mãos de Alcolumbre.

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Para o cientista político Guilherme Carvalhido, da Universidade Veiga de Almeida do Rio de Janeiro, as eleições realizadas na última semana no Congresso apontam para um cenário favorável ao que se costumou chamar de "nova política", em detrimento de velhas práticas.

"Você vai ter um processo dos chamados ritos operacionais das Casas legislativas, mas principalmente pela pressão popular, que é o que aconteceu na eleição do Senado. A gente tem que estar de olho de maneira precisa na forma como a pressão popular nas Casas legislativas federais vai acontecer. Hoje, há uma tendência forte dessa pressão acontecer, e com a renovação que você viu que foi significativa, sobretudo no Senado, você terá ali a forte possibilidade desses ritos mudarem. Ou seja, hoje há uma possibilidade de mudança sim, gradual, nessas duas Casas", declarou em entrevista à Sputnik Brasil.

Carvalhido avaliou que o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) saiu-se vitorioso do processo de eleição para as duas Casas legislativas federais. Na sua avaliação, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, merece crédito por articulações que levaram à eleição dos dois melhores nomes para os projetos de interesse do governo em 2019.

"Foi uma vitória do Onyx como articulador e do próprio governo. Como ele não conseguiu um nome mais forte dentro da Câmara, que é uma Casa mais complexa, ele conseguiu articular uma negociação com o Rodrigo Maia. A gente vai ver ainda como ela vai se estabelecer […] No Senado, Onyx saiu-se vitorioso e o governo também se saiu vitorioso. O Davi Alcolumbre foi de fato conectado com o Onyx e mais fechado com a pauta do governo", afirmou o analista.

Entretanto, os êxitos nos primeiros passos do governo Bolsonaro no seu diálogo com o Congresso Nacional não devem criar a sensação de facilidade no trato com os parlamentares, sobretudo quando envolver votações fundamentais para o Planalto, como a da Reforma da Previdência.

De acordo com o cientista político da Universidade Veiga de Almeida ouvido pela Sputnik Brasil, os blocos parlamentares ainda estão em processo de formação e acomodação, e o papel das bases sobre deputados federais e senadores não deve ser desprezado pelo governo na hora de negociar.

"Agora, vamos ver o resultado nessa esteira de mudanças que esse governo pede, que esse governo vai propor ao Congresso a partir daquilo que foi apresentado na campanha eleitoral, que resultado dará essa estrutura e como isso vai ser. Porque uma coisa é você ter o resultado da eleição, e a outra é na prática você ter esses resultados colocados ao sabor popular. Aí eu acrescento: o presidente Bolsonaro foi eleito dentro de uma lógica de combate não, por exemplo, a uma Reforma da Previdência. Ela, afora ser necessária ou não, é impopular e os deputados e senadores estão presos às suas bases. E essas bases é que vão determinar, em grande medida, os seus votos no momento em que os processos, as propostas forem feitas nas Casas", explicou Carvalhido.

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Ao mesmo tempo que o DEM, ao assumir o comando das duas Casas legislativas federais, ganha papel de protagonista na esfera política brasileira que há muito não possuía – o partido chegou a cogitar uma fusão durante os governos petistas, dada a perda seguida de cadeiras no Congresso –, o especialista prevê que os derrotados, sobretudo no Senado, terão de ser ouvidos principalmente em votações expressivas.

"Não há dúvida que pela saída do Renan, ele saiu chateado, saiu derrotado e por isso ele renunciou naquele momento, ele não queria colocar à prova esse processo, e ali naquele ato ele demonstrou: 'olha, estou indo para a oposição definitivamente'. O ato dele demonstra isso. Portanto, dentro dessa lógica ele vai ter um papel. Ele tem algumas figuras ali, o MDB é o partido com mais senadores, mas ainda assim eu vejo, até pela renovação que o Senado teve e que foi dito pelo próprio Renan no discurso dele como candidato, o governo terá uma vantagem. No entanto, para votações de mudanças significativas nas quais você precisa de dois terços da Casa, para mudanças constitucionais, aí sim você vai ter que fazer uma negociação mais árdua com o grupo do Renan que tem uma posição mais significativa", pontuou.

A mesma dor de cabeça que Calheiros pode causar ao governo Bolsonaro no Senado o analista ouvido pela Sputnik Brasil não espera ver representado pela esquerda. "Ela saiu enfraquecida", concluiu.

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