Inaugurada em 1984, durante o regime militar, a Usina Hidrelétrica de Itaipu, barragem de 196 metros e com 20 unidades geradoras, é considerada uma líder mundial em produção de energia limpa e renovável, além de um grande símbolo das relações do Brasil com o Paraguai. No entanto, ao longo dos últimos anos, esse gigantesco projeto foi motivo de alguns desentendimentos entre os dois países, sobretudo no que diz respeito aos valores pagos pelo Brasil à energia fornecida pelo vizinho como pela cláusula que impede os paraguaios, até 2023, de vender o excedente da energia produzida a outros países.
De acordo com o professor Paulo Velasco, diretor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), existe uma afinidade política muito clara entre os atuais chefes de Estado de Brasil e Paraguai, o que indicaria uma disposição das duas partes para superar as diferenças em relação a Itaipu. Ainda assim, é difícil contabilizar até que ponto o governo brasileiro estaria disposto a ceder em uma das principais reivindicações do Paraguai, que seria de antecipar esse prazo para que a energia não consumida pelo Paraguai fosse vendida para um terceiro Estado.
"O Brasil depende muito desse excedente que compra do Paraguai. Bem sabemos que é uma empresa binacional, Itaipu, tem metade brasileira e metade paraguaia, e o Paraguai usa uma parcela muito pequena da energia que lhe cabe produzida em Itaipu. Então, vende todo o restante para o Brasil e o Brasil depende muito dessa energia que compra do Paraguai. Então, não sei se seria interessante para o Brasil [antecipar o fim da cláusula]", disse Velasco em entrevista à Sputnik Brasil. "Porque teríamos, desde já, ou pagar mais caro ainda para o Paraguai ou encontrar alguma fonte substituta dessa energia elétrica."
A aproximação com os paraguaios sobre Itaipu ocorre em um momento em que o Brasil vive preocupado com o fornecimento de energia em outra fronteira, ao norte. Roraima é o único estado do país que não está integrado ao Sistema Interligado Nacional (SIN), dependendo a importação de eletricidade da Venezuela, que, devido a uma profunda crise sociopolítica e econômica, mal tem conseguido abastecer os seus próprios cidadãos nos últimos tempos.
"Acho que o governo federal tem realmente que pensar em uma alternativa para o estado de Roraima. Não dá para ficar dependendo da importação de energia elétrica da Venezuela diante do caos absoluto no país vizinho", opina o especialista.
Para o ex-embaixador do Brasil no Paraguai Luiz Augusto de Castro Neves, que foi membro do Conselho de Administração da Itaipu Binacional, não é possível cogitar, neste momento, sobre o que poderá de fato ser alterado no que tange à administração da hidrelétrica. Segundo ele, o que é possível dizer é que a atual gestão conjunta deverá ser ainda mais conjunta.
"Uma boa parte do controle das finanças de Itaipu está do lado brasileiro porque o que está em questão são as garantias do Tesouro Nacional brasileiro, e não do Tesouro paraguaio. Mas não sei qual é a ideia a ser seguida quando o tratado atual perder sua vigência, em 2023", comentou ele em conversa com a Sputnik.
Já sobre a construção de duas novas pontes entre Brasil e Paraguai, a cargo do governo brasileiro, Neves destaca que esses projetos são necessários para formalizar o comércio bilateral, que, hoje, "praticamente, se concentra pela Ponte da Amizade, que não tem condições estruturais para receber esse comércio".
"E que, no fundo, é uma grande, digamos assim, via de transpasso, de cruzamento de pequeno contrabando, dos sacoleiros, por exemplo. Então, a construção de duas pontes permitirá, digamos assim, formalizar mais o comércio entre o Brasil e o Paraguai."