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De volta para o futuro: o que Bolsonaro traz na mala da viagem aos EUA?

Jair Bolsonaro esteve nos Estados Unidos, nos últimos dias, em sua primeira visita bilateral como chefe de Estado brasileiro. Em Washington, demonstrou grande sintonia com o presidente norte-americano, deixando claro o alinhamento do seu governo ao de Donald Trump, mas o que ele alcançou de fato para o Brasil?
Sputnik

Para o professor de relações internacionais Gunther Rudzit, da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP), o saldo da viagem de Bolsonaro e de sua delegação aos EUA foi positivo, com contatos importantes para as áreas de inteligência, defesa e economia.

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De acordo com o especialista, a proclamação do Brasil como um aliado não europeu da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), por exemplo, confere ao país um grande status de confiança, que poderá resultar em ganhos militares, diplomáticos e econômicos significativos, enquanto o acordo para o uso da base de Alcântara poderá abrir boas oportunidades para empresas brasileiras que se interessarem em firmar parcerias com companhias norte-americanas.

No entendimento de Rudzit, apesar da ideia de um alinhamento automático, os passos dados até agora pelo governo não configuram esse tipo de situação. Segundo ele, boa parte das críticas e acusações que vêm sendo feitas ao posicionamento do Brasil em relação aos EUA, de que o país estaria se colocando em uma posição subalterna, reflete uma polarização que antecede o último período eleitoral, pouco contribuindo para a resolução dos problemas enfrentados pelo país. 

"A sociedade brasileira se radicalizou nesses dois polos. De um lado, a personificação dessa visão é o ex-presidente Lula, e, de outro lado, a personificação é do candidato e agora presidente eleito, em exercício, Jair Bolsonaro. Então, as acusações de ambos os lados existiram antes e vão continuar existindo pós-eleição", disse o professor em entrevista à Sputnik Brasil. 

Um dos resultados apontados por Bolsonaro e Trump como ponto positivo do encontro que tiveram na última terça-feira é o apoio declarado dos EUA à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), condicionado à renúncia brasileira ao tratamento preferencial a que tem direito na Organização Mundial do Comércio (OMC), preço considerado alto demais por alguns analistas.

Juliana Inhasz, coordenadora de graduação do curso de Economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), explica que a OCDE é vista, na prática, como um clube dos países ricos, formado por nações avançadas e prósperas. Fazer parte da organização, segundo ela, é como ter um selo ou uma garantia de que aquela economia vai bem, tem espaço para crescer e tem uma agenda de medidas e ações sólidas ao longo do tempo, algo que seria muito bom para o Brasil. 

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"Isso, para a gente, hoje, seria muito importante. Muito provavelmente, isso ajudaria a trazer investimentos, isso ajudaria a atrair a atenção do mundo para o Brasil e para os nossos eventuais potenciais de crescimento ao longo do tempo", disse ela à Sputnik. 

Inhasz argumenta que apesar dos benefícios evidentes que o Brasil teria ao ingressar nessa organização, as vantagens que o Brasil perderia ao abrir mão de sua posição privilegiada na OMC — devido ao status de país em desenvolvimento — seriam muito significativas. Para ela, a troca seria muito arriscada.

"Em uma economia como a nossa, que tenta voltar a crescer, abrir mão de benefício é uma medida bem arriscada. A gente ainda não tem um processo de crescimento, uma retomada do crescimento sólida, a ponto de a gente poder negar ou abrir mão de algumas benesses em razão ou em função de um título que, talvez, nós nem consigamos tirar grandes vantagens num primeiro momento." 

A especialista afirma que, para o Brasil, o mais seguro seria dar esse passo adiante, que seria a entrada na OCDE, mais à frente.

"No jargão popular, estamos colocando a carroça na frente dos cavalos, e a gente, provavelmente, vai se frustrar em algum momento. A gente não vai conseguir suprir as expectativas que vão ser criadas com o ingresso do Brasil na organização e a gente vai acabar, em algum momento, talvez, até prejudicando esse processo de crescimento ao longo do tempo", afirmou Inhasz.

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