Nesta segunda-feira, Jair Bolsonaro (PSL) teceu comentários sobre a atual crise na Venezuela. O presidente afirmou que, no caso de uma invasão militar contra Caracas, iria consultar o Congresso. A decisão final, no entanto, segundo o político, seria estritamente pessoal.
"É uma declaração forte, contundente".
No entanto, segundo o acadêmico, Bolsonaro possui todas as atribuições, no âmbito da Constituição, para declarar guerra. O presidente do Brasil, na função de Comandante-em-Chefe, é quem decide, de fato, se o país deve realizar uma intervenção militar, com chancela do Congresso.
"Não deixa de ser uma declaração de força", no entanto, afirmou o interlocutor da Sputnik Brasil.
O pesquisador da Cebri destacou que a atual postura do Brasil vem contra todo o trabalho político internacional exercido nas últimas décadas, em que Brasília se apresentou como fiador da estabilidade no Cone Sul e como intermediador de conflitos entre os países da região.
No entanto, apesar da fervorosidade presidencial, nem tudo anda bem nos gabinetes do Palácio do Planalto. Os militares na Casa Civil, bem como o vice-presidente Hamilton Mourão, nem sempre compartilham da visão estratégica do atual Chefe de Estado.
"O Mourão quando fala, ele fala em nome de uma classe militar. Os militares não querem uma aventura militar na Venezuela. Eles não têm nada a ganhar com isso. Além do risco de perdas concretas, materiais, em termos de vidas humanas, não há qualquer dividendos que os militares ganhariam com uma ação na Venezuela", afirmou Paulo Velasco.
Para o estudioso, Bolsonaro, cuja legitimidade se apoia muito em suas origens militares, provavelmente evitará um confronto político com as Forças Armadas. Ou seja, uma declaração de guerra contra Venezuela seria muito pouco provável, mesmo com a "ala ideológica" de sua administração defender a intervenção.
"Apesar da contundência de sua fala, se trata muito mais de um jogo de cena, da necessidade de demonstração de força, do que propriamente de uma intenção de fazer, entrado em choque com o vice-presidente e com toda a categoria das Forças Armadas, que já declarou, através de vários representantes, que não têm interesse nenhum em uma ação desse tipo", concluiu o diretor do curso de Relações Internacionais.