Na última terça-feira, o ministro Abraham Weintraub disse que cortaria em 30% das verbas das Universidades de Brasília (UNB), Federal da Bahia (UFBA) e Federal Fluminense (UFF), e, mais tarde, também das outras universidades e institutos federais. Ao justificar os cortes, ele disse que essas três instituições primeiramente atingidas promoviam manifestações partidárias, justificativa que provocou intensa revolta entre autoridades, educadores e estudantes, já indignados com o fato de os investimentos em Educação no país terem caído 56% só nos últimos quatro anos.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o deputado federal Enio Verri, do PT do Paraná, criticou duramente a postura do ministro da Educação, afirmando que as universidades servem justamente como centros de debate, não sendo legítimas as alegações de Weintraub sobre as mesmas promoverem balbúrdia. Para ele, esses espaços devem ser livres para discussões à direita e à esquerda, de forma a produzir e compartilhar conhecimento. Além da questão da censura a essas instituições, o parlamentar chama a atenção para consequências práticas muito negativas para o país em razão dessa redução do orçamento para as universidades.
"Por que cortar dinheiro de universidade pública, principalmente em um país onde toda a ciência, a inovação tecnológica, as grandes inovações inclusive gerenciais passam pela pesquisa da universidade pública? As universidades federais investem em pesquisa. Ao cortar o dinheiro das universidades, você corta a extensão, corta pesquisa e acaba com a competitividade do Brasil", disse Verri, questionando que tipo de país o atual governo está querendo construir.
Para Antônio Gonçalves, presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, a Educação deveria ser analisada como uma política pública fundamental para o desenvolvimento da sociedade e para a melhoria da qualidade de vida da população. Segundo ele, embora o contingenciamento já estivesse ocorrendo antes do início do governo do presidente Jair Bolsonaro, a atual administração tem como política fundamental o ataque ao ensino superior público.
"Isso significa dizer que muitas instituições podem vir a fechar ou diminuir o acesso", disse ele em declarações à Sputnik. "É um projeto de educação que não é de interesse do povo, e as pessoas têm que se apropriar disso, para a gente resistir e derrotar políticas como essa."
Felipe Rosa, diretor da Associação de Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que a situação geral e na sua instituição é cada vez mais dramática em decorrência dos sucessivos cortes do setor. Segundo ele, cada valor retirado do orçamento deixa mais precário o funcionamento da universidade, afetando desde a realização de pesquisas até a manutenção dos prédios. Segundo ele, um novo corte, mais severo, como o anunciado, pode ser "um golpe de misericórdia" na educação superior brasileira.
"Vai ficar muito difícil manter as portas da universidade abertas, funcionando, com as aulas, pesquisa, extensão. Porque, realmente, a gente precisa de um mínimo orçamentário para poder funcionar", disse ele à Sputnik Brasil.