O estudo Perspectivas Econômicas da OCDE previa em março o crescimento de 1,9%, valor que já era menor que o esperado em novembro do ano passado, quando a organização projetou 2,1% para o Brasil. De acordo com a especialista em macroeconomia e professora da Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da UFRJ (Coppead), Margarida Gutierrez, o relatório é um indício da urgência das reformas estruturais na economia brasileira.
"A previdência está na raiz destes problemas, mas fora a reforma desta, há várias outras que precisam ser feitas e dizem respeito à agenda do crescimento da economia, como a [reforma] tributária. A [reforma] da previdência é condição necessária — não suficiente —, mas essencial para a recuperação da economia. Do contrário, entraremos em um processo de desaceleração brutal e chegaremos a uma recessão", prevê Margarida.
Mesmo assim, a professora não acredita que a aprovação do projeto enviado pelo governo Bolsonaro ao Congresso signifique imediata recuperação do mercado do trabalho. Ela explica que há uma defasagem de resposta entre as duas variáveis.
"O mercado de trabalho é o último a entrar na crise e o último a sair. Isso acontece porque existem custos ao se demitir e também para contratar. O empresário espera até o último momento para saber se deve investir, até ter mais certeza que a recuperação da economia vem para ficar", analisa.
Crescimento mundial deve cair
Margarida avalia ainda que o Brasil precisa correr se quiser passar sem grandes dificuldades por um período de desaceleralação da economia mundial. Embora não preveja uma queda tão substantiva quanto "a catástrofe internacional de 2008", a professora diz que já é possível notar a desaceleração na zona do euro, na Inglaterra, no Japão e na China.
"Na zona do euro, as perspectivas de crescimento não são animadoras, com taxas de crescimento populacional baixa e por vezes negativa. Temos alto grau de endividamento entre os agentes econômicos, principalmente os governos de países periféricos. O Japão tem uma estagnação singular que vem desde o final dos anos 80, com perspectivas de consumo baixas", conta.
A nível mundial, a ameaça premente é a guerra comercial iniciada por Trump contra a China que já começa a dar sinais mais concretos em todas as regiões.
"Isso está criando dificuldades de transação no mundo, tirando pontos no crescimento do PIB mundial, algo como 0,7%. Em ambientes de incerteza, o apetite por títulos de risco diminui, então a liquidez de capitais para países emergentes como o Brasil cai bastante. As taxas de câmbio ficam mais pressionadas, o crédito fica menor, os fluxos de comércio também", finaliza.