O presidente brasileiro fez, nesta quinta-feira, sua primeira visita oficial à Argentina, onde se reuniu com o líder do país vizinho, Maurício Macri, na Casa Rosada, sede do Poder Executivo local.
"Faltam pequenos detalhes. É importante para os dois países. Tá faltando a questão dos vinhos, laticínios, algumas coisinhas que o Paulo Guedes já entrou em campo e nós vamos resolver essa questão para as próximas semanas", disse Bolsonaro a jornalistas, após se reunir com Macri.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), disse estranhar uma resolução tão rápida nessa questão e isso desperta preocupações sobre o que o Brasil está abrindo mão para conseguir finalmente fechar este acordo.
“O que nós estamos vendo aqui é o grau de vulnerabilidade na posição brasileira, os europeus faziam há anos exigências que nunca foram de alguma forma aceitas pelos países latino-americanos, pelo Mercosul e especialmente pelo Brasil. De algumas semanas para cá essas exigências foram aceitas e o que é mais grave, as exigências atingiram pontos que até então eram muito sensíveis”, disse.
Segundo Trevisan, o Mercosul está cedendo mais do que a União Europeia para viabilizar o acordo.
“O bom negócio é aquele negócio que é sempre bom para os dois lados, quando concessões excessivas acontecem de um lado só, essa máxima de que o bom negócio é bom para os dois lados fica um pouco capenga”, comentou.
Isso ocorre, segundo Trevisan, porque o Brasil abriu mão das chamadas regra de origem onde 60% dos componentes de qualquer produto precisavam ser produzidos no Brasil.
“O que está sendo trocado nesses acordos é que a União Europeia começou a sinalizar favorável, é porque o Brasil passa a aceitar 60% ou mais de entrada de produtos estrangeiros”, comentou.
“A Europa, nós temos que entender, que eles têm acordos comerciais amplos, inclusive com a China. Então o ferro de passar que nós estamos comprando aqui, em que 60% virá da Europa, esse Made In Europe não é Made in Europe é Made in China e em vários outros locais. Na prática, isso vai dar uma competitividade absurda para os produtos europeus em detrimento da indústria nacional”, disse.
“Um apressamento em um acordo entre Mercosul e União Europeia pode estar saindo como um subproduto de um acordo entre China e Estados Unidos. Nesse caso nós estamos perdendo e bastante”, completou.
A União Europeia e o Mercosul (bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela – que está temporariamente suspensa) negociam um acordo de livre comércio há 20 anos.
A assinatura foi adiada durante todo esse período em razão, principalmente, da resistência de setores industriais e agrícolas dos dois lados. A expectativa do governo brasileiro é de que um desfecho para a negociação posse ser alcançado ainda neste semestre.