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Moeda comum no Mercosul: proposta viável de Bolsonaro ou apenas anúncio bombástico?

No início de junho Jair Bolsonaro defendeu a criação de uma moeda única para o Brasil e Argentina que poderia estender-se ao Mercosul. O economista Mariano Francisco Laplane avaliou essa ideia.
Sputnik

Durante a visita oficial à Argentina, realizada no início deste mês, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro disse que estava trabalhando com seu homólogo argentino Mauricio Macri na criação de uma moeda comum extensiva a todo o Mercosul, o "peso-real". A declaração provocou polêmica entre os economistas porque ela foi inesperada, mesmo para as autoridades monetárias dos dois países.

Iniciativa com objetivos mais político-eleitorais

Em entrevista à Sputnik Brasil, o professor do Instituto de Economia da UNICAMP Mariano Francisco Laplane disse que interpreta esse anúncio do presidente Bolsonaro como uma iniciativa com objetivos mais político-eleitorais e não como uma intenção séria e tecnicamente viável.

"Uma união monetária, se é desejada pelos dois países, tem que ser precedida por uma série de medidas bastante complexas de ordem fiscal, de ordem institucional nos dois países, que demandam muito tempo e negociações prolongadas. Nada disso aconteceu antes do anúncio, pelo contrário, o anúncio pegou completamente de surpresa as autoridades monetárias de dois países, tanto o Banco Central do Brasil, como o Banco Central da Argentina", comentou ele.

Processo que leva muito tempo

Na verdade, a teoria econômica moderna classifica quatro tipos de blocos econômicos: zona de livre comércio, união aduaneira, mercado comum e união econômica e monetária – o tipo de integração econômica mais sofisticado que não pode ser atingido sem atravessar as três primeiras etapas.

"Só para dar um exemplo, a adoção de uma moeda comum na Europa, o euro, foi produto de longas negociações e ajustes, onde foi feito primeiro o Tratado de Maastricht e antes disso um processo de integração econômica muito profundo, começando pelo comércio, que levou décadas. O anúncio do presidente brasileiro, sugerindo que isso podia ser feito de maneira imediata, esse anúncio bombástico, não tem nenhum paralelo com a adoção do euro na União Europeia", opina Laplane.

Para o especialista, "mesmo no caso da União Europeia, após a crise de 2008 e a crise da Espanha, de Portugal e da Grécia, e mesmo a decisão da Inglaterra, que nem fazia parte do euro, revelou que uma união monetária tem que ser muito amadurecida e muito pensada, porque significa que os países abrem mão do exercício da política monetária. Não é uma coisa trivial, é um acordo de integração muito profundo".

Solidariedade com o presidente Macri

Como resultado, Laplane afirma que o anúncio de Bolsonaro sobre a criação de uma moeda comum extensiva a todo o Mercosul, o "peso-real", praticamente não faz sentido e não daria certo.

"Portanto, o anúncio, feito dessa maneira e de forma intempestiva, anúncio público, isso eu posso interpretar como visando efeitos eleitorais. Argentina vai para uma eleição presidencial agora, nos próximos meses, o presidente em exercício, o presidente Macri, não atravessa um bom momento politicamente. A economia argentina também não atravessa um bom momento. Eu acho que a intenção do presidente Bolsonaro é um pouco atrapalhada, como é seu estilo, e talvez tenha sido de expressar de alguma maneira infantil talvez solidariedade com o atual presidente em exercício da Argentina", revelou ele.

"Em minha opinião, não se trata de uma proposta madura, séria, tecnicamente avaliada e viável. É apenas isso, um anúncio bombástico com fins eleitorais", concluiu o economista.

Jair Bolsonaro sublinhou que seu plano era ter uma moeda única para todo o continente sul-americano, mas que começaria com o Brasil e a Argentina. O presidente brasileiro disse que o assunto foi analisado desde 2011. Entretanto, o Banco Central do país negou essa informação, sublinhando que não tem planos ou estudos em andamento para uma união monetária com a Argentina.

Atualmente no mundo existe apenas uma união monetária de pleno valor. Trata-se da Área do Euro dentro da União Europeia estabelecida em 1999; 19 países fazem parte da zona euro.

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