No último domingo, o Estadão publicou uma entrevista com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, na qual ele acusa os Estados Unidos de fazer bullying e pressão sobre seus parceiros comerciais, afetando toda a economia global.
Segundo ele, a atual guerra comercial iniciada por Washington teria arruinado a confiança do mercado, aumentado o risco de recessão mundial e colocado em risco economias emergentes como a brasileira. E, nesse cenário, seria importante Brasília e Pequim defenderem a cooperação internacional e o multilateralismo.
Para o presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, Luiz Augusto de Castro Neves, ex-embaixador do Brasil em Pequim e Tóquio, a disputa em curso entre Estados Unidos e China teria iniciado no setor do comércio e, hoje, já teria se transformado em uma briga por poder.
Em entrevista à Sputnik Brasil, ele destaca que, ao longo dos últimos anos, o centro de gravidade da economia mundial se deslocou da América do Norte e da Europa Ocidental para a Ásia, em um movimento liderado principalmente por Pequim. Ele acredita que o grande crescimento chinês e a respectiva ocupação de espaços por parte da China provocou uma certa reação por parte dos EUA, sintetizada no America First (América Primeiro, slogan nacionalista utilizado por Donald Trump, presidente dos EUA).
"Na verdade, a China deu uma boa contribuição para o funcionamento da economia mundial deste século XXI", disse Neves à Sputnik.
De acordo com o especialista, num momento pré-crise de 2008, com a economia mundial em grande expansão, havia um grande risco de inflação. Mas, graças a uma invasão de produtos chineses baratos, esse perigo acabou sendo contido.
"E, depois de 2008, a economia chinesa continua a crescer o dobro da média mundial. Todo mundo, de certa maneira, passou a crescer menos, inclusive a própria China. Mas a China, hoje, continua a crescer o dobro da média da economia mundial."
Castro Neves argumenta que, na tentativa de reagir a esse crescimento da presença chinesa, os Estados Unidos passaram a lançar mão de estratégias para buscar aliados para sua causa, mas não a ponto de fazer bullying, como afirmou o embaixador Yang Wanming.
No caso do Brasil, o presidente do Conselho Empresarial defende que o relacionamento com a China continua muito bom, não havendo constatação de nenhuma tentativa norte-americana para atrapalhar isso.
"O relacionamento do Brasil com a China segue num patamar muito bom. E não há, digamos assim, qualquer gestão ou iniciativa americana contra as relações Brasil-China, sobretudo no campo econômico e comercial."