Nesta quarta-feira, fonte militar da Sputnik informou que tropas do Exército da Síria entraram na cidade de Raqqa pela primeira vez desde 2014. Na época, Raqqa havia se transformado em um reduto do Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e demais países).
Em outubro de 2017, a cidade foi liberada em uma operação militar das Forças Democráticas da Síria (FDS) com apoio aéreo da coalizão internacional.
"Raqqa é uma cidade grande, capital da província do mesmo nome, e tem significado estratégico relevante. Pela cidade já lutaram o Exército Livre da Síria e a Frente Al-Nusra, depois o Daesh [ambas organizações terroristas proibidas na Rússia e demais países], e só depois a cidade foi ocupada pela oposição curda com apoio norte-americano."
Os bombardeios massivos e as operações terrestres efetuadas pelos curdos com apoio norte-americano arruinaram a cidade de Raqqa, que ainda não foi reconstruída.
"A cidade é um eixo econômico e estratégico, com grande importância simbólica", disse o especialista.
Demidenko ressaltou que a Operação Fonte de Paz realizada pela Turquia teve o efeito inesperado de praticamente unir a oposição curda às forças leais a Bashar Al-Assad, que estão agindo "praticamente como uma força política e militar conjunta".
"É muito difícil prever como a situação vai se desenrolar, mas eu duvido que a Turquia pensa conseguir se manter nos territórios que controla agora, ou que está tentando controlar."
Apesar dos objetivos ambiciosos da operação de Ancara, o especialista não acredita que haja um confronto direto entre os exércitos da Turquia e da Síria:
"A intenção do [presidente da Turquia Recep Tayyip] Erdogan de criar uma zona de segurança de 30 quilômetros por toda a extensão da fronteira com a Síria é muito pouco realizável, uma vez que o Exército turco precisaria enfrentar o Exército da Síria, e eu acredito que eles não chegarão a vias de fato."
Aproximação curdo-síria
O especialista acredita que a grande reviravolta causada pela operação turca foi a aproximação sem precedentes entre a oposição curda e o as forças leais a Assad:
"O mais importante é que, sob cobertura do Exército sírio, que tem o apoio da Rússia e do Irã, estarão lutando as forças curdas que não estão ligadas a ninguém. A Turquia já teve que lidar por várias vezes com situações similares no passado, quando tentou suprimir o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e seus aliados, por exemplo no norte do Iraque", explicou Demidenko.
A nova correlação de forças deve trazer resultados positivos para o processo de federalização e para um futuro processo de paz na Síria:
"Agora existe um certo resultado político relevante para o futuro da Síria, porque agora os curdos e as autoridades sírias se viram obrigados a dialogar politicamente [...] esse é um passo rumo à federalização da Síria e à reconstrução da Síria como um novo Estado democrático", concluiu Demidenko.
Operação Fonte de Paz
No dia 9 de outubro, a Turquia iniciou a Operação Fonte de Paz com o objetivo de criar uma zona de segurança na Síria ao longo da fronteira com a Turquia, erradicar "terroristas" e repatriar refugiados sírios presentes em seu território.
A Administração Autônoma curda do nordeste da Síria anunciou, no dia 13 de outubro, um acordo com o Exército da Síria para que este se posicione ao longo da fronteira turco-síria e ajude a repelir as forças turcas da região.