A atitude de Donald Trump em relação à defensiva turca na Síria tem sido aparentemente instável, com abertura do caminho para a operação ao retirar as tropas norte-americanas da região e, posteriormente, ao sancionar Turquia à medida que a ofensiva avançava.
"Quando damos uma olhada nas postagens do senhor Trump no Twitter, não dá mais para segui-las. Não dá para acompanhar", zombou Erdogan da rapidez do presidente norte-americano em escrever sobre o que está acontecendo no nordeste da Síria.
As palavras do presidente turco, que estava regressando de uma cúpula no Azerbaijão, foram citadas pelo jornal Hurriyet.
Erdogan parecia estar se referindo a uma série de tweets em que Donald Trump primeiro defendeu a retirada de 1.000 soldados americanos de posições cruciais no nordeste da Síria, efetivamente dando luz verde a uma operação turca, e depois aplicou sanções a Ancara.
A Casa Branca anunciou abruptamente a saída militar dos EUA no domingo (6). Três dias depois, as forças turcas lançaram uma operação contra forças curdas (anteriormente apoiadas pelos EUA) ao longo da fronteira com a Síria e no interior do país árabe.
Os curdos eram até então aliados-chave da coalizão ocidental liderada pelos EUA na luta contra o Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em muitos outros países), mas são vistos como terroristas na Turquia, que os relaciona ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), uma insurreição com décadas de existência destinada a estabelecer a autonomia curda.
O objetivo declarado da ofensiva é estabelecer uma zona tampão na área e acomodar até três milhões de refugiados sírios que estão atualmente na Turquia. O governo sírio vê esses planos, bem como a ofensiva turca em curso, como uma violação agressiva de sua soberania; a comunidade internacional também tem sido muito crítica em relação à operação.
Trump há muito que prometeu retirar os Estados Unidos das operações militares em todo o mundo, mas a sua última decisão na Síria suscitou preocupações em Washington de que isso iria minar a credibilidade norte-americana e trazer mais caos à área já volátil.
O presidente dos EUA pareceu tentar justificar sua decisão em vários tweets na semana passada. Em uma postagem, no entanto, ele prometeu "atingir a Turquia com muita força financeira" se ela "não cumprir as regras".
A Turquia vem planejando atacar os curdos há muito tempo. Eles têm lutado desde sempre. Não temos soldados ou militares perto da área de ataque. Estou tentando acabar com as GUERRAS SEM FIM. Estou falando para ambos os lados. Alguns querem que enviemos dezenas de milhares de soldados...
...para a área e comecemos uma guerra novamente. A Turquia é membro da OTAN. Outros dizem AFASTAM-SE, deixem os curdos travarem suas próprias batalhas (mesmo com a nossa ajuda financeira). Eu digo: atacar a Turquia com muita força financeira e com sanções se eles não cumprirem as regras! Estou observando de perto.
Em outro tweet ele enfatizou que turcos e curdos devem lutar sozinhos.
...Os Curdos e a Turquia lutam há muitos anos. A Turquia considera o PKK o pior de todos os terroristas. Outros podem querer entrar e lutar por um lado ou pelo outro. Deixe-os! Estamos acompanhando de perto a situação. Guerras sem fim!
As medidas militares da Turquia levaram os curdos a chegar rapidamente a um acordo com o governo de Bashar Assad, cujas forças já entraram no território detido pelos curdos, que estava fora do seu controle há anos, para se defenderem da ofensiva da Turquia.
Em 14 de outubro, o presidente dos Estados Unidos escreveu que os norte-americanos "derrotaram 100% o Daesh".
Depois de derrotar 100% do califado do Daesh, retirei em grande parte as nossas tropas da Síria. Que a Síria e Assad protejam os curdos e lutem contra a Turquia por sua própria terra. Eu disse aos meus generais, por que devemos lutar pela Síria...
Em seguida exibe desinteresse por quem proteger os curdos.
... e Assad para proteger a terra do nosso inimigo? Qualquer um que queira ajudar a Síria a proteger os curdos é bom comigo, seja Rússia, China ou Napoleão Bonaparte. Espero que todos se saiam muito bem, estamos a 7.000 milhas [11.265.408 km] de distância!
No dia seguinte, o presidente dos EUA emitiu uma ordem executiva autorizando sanções contra a Turquia e bloqueando as negociações sobre um acordo comercial de US$ 100 bilhões de dólares (R$ 415 bilhões). A lógica era que o governo de Erdogan deve ser punido por "pôr em perigo os civis e ameaçar a paz, a segurança e a estabilidade na região".
Falando a parlamentares na quarta-feira (16), o ministro das Relações Exteriores da Turquia sugeriu que Trump tinha avançado com as sanções "sob a pressão de fatores internos" e prometeu dar resposta recíproca.