Por que agora e por que em Idlib? Jornalista sírio questiona circunstâncias da morte de al-Baghdadi

Na noite deste domingo (27), Donald Trump anunciou que o terrorista mais procurado do mundo havia sido eliminado em uma operação especial dos EUA na Síria. Jornalista sírio questiona o momento escolhido para operação e o local onde ela se desenrolou.
Sputnik

O presidente dos EUA anunciou a morte do líder do Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e demais países) durante um discurso na Casa Branca. Fornecendo detalhes da operação, Donald Trump afirmou que o terrorista morreu "gemendo e chorando".

A incursão norte-americana teria ocorrido na noite de domingo na povoação de Barisha, na província de Idlib, região noroeste da Síria. A área ainda está sob o controle de terroristas. Os norte-americanos teriam encontrado al-Baghdadi em um de seus vários esconderijos.

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Após o grupo de operações especiais dos EUA invadir o edifício, o líder do Daesh teria se refugiado em um túnel junto com três de seus filhos e detonado seu colete suicida. Os quatro morreram.

"Ele chegou ao fim do túnel enquanto nossos cachorros o perseguiam. Ele acionou seu colete, se matando a ele próprio e a seus três filhos. Seu corpo ficou mutilado pela explosão. O túnel desmoronou em cima dele", disse Trump em um discurso transmitido pela televisão norte-americana.

O presidente dos EUA agradeceu à Rússia, ao Iraque, à Turquia, à Síria e aos curdos sírios pelo auxílio fornecido durante a operação.

“[Os russos] foram muito cooperativos, eles foram ótimos. E nós dissemos que esta seria uma missão que eles iriam gostar também, porque eles também odeiam o ISIS [Daesh]”, declarou Trump em uma coletiva de imprensa na Casa Branca.

Apesar das declarações, o Ministério da Defesa da Rússia manifestou dúvidas em relação à veracidade do ocorrido.

O porta-voz do ministério russo, major-general Igor Konashenkov, disse que o ministério não detinha "informações confiáveis sobre militares norte-americanos operando na área controlada pela Turquia da zona de desescalada de Idlib, sobre mais uma operação para 'eliminar' o ex-líder do Daesh, Abu Bakr al-Baghdadi".

Assassinato de al-Baghdadi: por que só agora?

Professor de ciências políticas da Universidade de Maltepe de Istanbul, Hasan Unal, observou que a notícia do assassinato de al-Baghdadi somaria pontos para Trump, que ficou bastante desgastado em Washington após sua decisão de retirar tropas da Síria.

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"O momento [da operação] é da maior importância, em um contexto no qual a Turquia em particular, mas talvez também a Rússia e, consequentemente, a Síria teriam interesse em dar um trunfo para Trump [para ele usar] no seu confronto com o Congresso", disse Unal.

"Essa pode ter sido como uma boa notícia enviada por Deus que o presidente dos EUA poderá usar para conquistar o público norte-americano e os republicanos no Congresso [...] dizendo que os EUA conseguiram eliminar o Daesh, o pretexto frequentemente reiterado para a presença militar dos EUA na Síria", acrescentou o professor.

Marcar território

Um ativista e jornalista sírio na província de Idlib, que pediu anonimato, acredita que a intenção de Washington é mostrar às outras forças na Síria que eles continuam presentes:

"Esta operação foi feita em um momento sensível para os Estados Unidos, tanto pela retirada de tropas da Síria, como pelas eleições que se aproximam. Os EUA queriam mandar uma mensagem para a Rússia e os demais dizendo que eles ainda estão na Síria e que eles podem visar quem eles quiserem, na hora que eles quiserem, sem a participação de mais ninguém", opinou o jornalista.

"Mas surge a questão: por que os americanos seguiram al-Baghdadi até ele entrar em Idlib?", questionou.

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Morte do líder não confirmada

Cientista político da Universidade de Ancara, Orhan Gafarli, lembrou que a organização terrorista Daesh não confirmou o assassinato de al-Baghdadi.

"Eu considero que o Daesh é uma organização terrorista bem específica e pouco ortodoxa. A estrutura da organização é muito ideológica e há líderes de duas categorias: os 'acadêmicos religiosos' e a liderança político-militar. Para o Daesh, a informação acerca do assassinato de al-Baghdadi significa 'precisamos de escolher um novo imã'", disse o professor.

Gafarli também lembrou que, para vencer a batalha contra o Daesh, é necessário muito mais do que matar seus líderes – a luta contra a ideologia terrorista é muito importante.

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Trump irá 'defender' os poços de petróleo

Além do anúncio da morte de al-Baghdadi, o presidente Donald Trump informou ao público norte-americano acerca das medidas tomadas para defender os poços de petróleo no leste da Síria:

"Nós os tomamos [os poços de petróleo] e os defendemos", disse o presidente durante a coletiva de imprensa, acrescentando que ele planeja fazer um acordo com uma empresa norte-americana para explorar as reservas sírias.

"Minha intenção é fazer talvez um acordo com a ExxonMobil ou com alguma outra de nossas ótimas empresas, para ir lá e fazer o trabalho direito [...] e expandir a riqueza", disse ele.

Dr. Ahmad Merei, membro do parlamento sírio e professor da Universidade de Damasco, argumenta que a intenção dos EUA é se apoderar do petróleo. A necessidade de proteger as reservas contra terroristas seria só mais um pretexto.

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"Eu acho que agora eles querem roubar o petróleo, o petróleo da Síria. Por isso, eles queriam dizer que o Daesh vai voltar [...] mas a razão por detrás disso é roubar esse petróleo e mostrar para Israel que eles estão por perto, que Israel não deve temer, principalmente agora que o Irã está desempenhando um papel importante na região", frisou o deputado.

Nesta sexta-feira (25), o secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, anunciou que Washington iria enviar tropas e veículos blindados para o leste da Síria, a fim de garantir a segurança dos poços de petróleo do país.

Alguns especialistas questionaram a legalidade da medida tomada pela administração Trump.

Moscou criticou a decisão dos EUA de enviarem tropas para proteger os poços de petróleo sírios, classificando-a de "banditismo estatal internacional".

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