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Lua de mel do Brasil com os EUA acabou cedo demais, diz economista

Após um ano tentando buscar uma aproximação mais forte com os EUA, o Brasil segue sendo alvo da política de poucos amigos do presidente Donald Trump, levantando questionamentos sobre as reais vantagens dessa parceria.
Sputnik

Nesta segunda-feira, o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou a restauração de tarifas sobre o aço e o alumínio importados do Brasil e da Argentina, países que, segundo ele, estariam desvalorizando suas moedas em relação ao dólar e, assim, atrapalhando produtores dos EUA no mercado internacional, sobretudo no setor agrícola. 

​A medida anunciada pela Casa Branca foi a última de uma série de ações negativas adotadas por Washington em relação ao Brasil nos últimos meses, que contrariam a tendência imaginada por muitos para os laços bilaterais quando o atual presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, assumiu o poder, prometendo uma aliança praticamente automática aos EUA.

Mesmo antes de ser eleito, Bolsonaro sempre demonstrou grande admiração por Trump. E a suposta amizade iniciada por ele neste ano vinha sendo apresentada como uma fonte de garantia de inúmeros benefícios a serem obtidos pelo Brasil nessa relação com os Estados Unidos, o que, até o momento, não ocorreu.

Além da taxação aos produtos brasileiros, recentemente, o governo norte-americano também frustou expectativas brasileiras ao não cumprir efetivamente a promessa de apoiar a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e ao manter o veto à entrada da carne bovina in natura brasileira no mercado norte-americano. 

​De acordo com o economista Lívio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), a decisão tomada por Trump em relação a Brasil e Argentina parte de uma premissa errada sobre a depreciação das moedas desses dois países, de que a mesma teria ocorrido artificialmente, intencionalmente, o que não reflete a realidade.

Na Argentina, ele explica, a desvalorização do peso se deu em um contexto pré-eleitoral de preocupação sobre uma possível guinada na política econômica do país com o retorno da esquerda ao poder

"Certamente, a depreciação, no caso argentino, ela está associada a uma perspectiva de mudança da política econômica, o que é bem diferente de dizer que o governo argentino induziu o enfraquecimento da moeda", disse o especialista em entrevista à Sputnik Brasil.

Já no caso brasileiro, a desvalorização do real estaria ligada principalmente a fatores globais, como o fortalecimento do dólar no mundo e o movimento dos juros longos americanos.

"Então, de fato, em ambos os países, e de forma muito mais clara ainda no caso brasileiro, a depreciação que ocorreu não pode ser qualificada como uma depreciação competitiva. E, portanto, a alegação do presidente Trump está fundamentalmente equivocada."

Segundo Ribeiro, o anúncio feito pelo chefe de Estado americano nesta segunda-feira pegou o mercado brasileiro de surpresa, principalmente por conta da justificativa apresentada para essa taxação, o que traz até "certo desconforto":

"Na medida em que o presidente Trump sugere a imposição de tarifas baseado em fatos... ou pelo menos em uma leitura dos fatos que não é razoável, de que forma isso abre a possibilidade para novos eventos pouco justificáveis ou pouco fundamentados adiante?", questiona o pesquisador. 

​Para Juliana Inhasz, economista e professora do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), a decisão anunciada hoje por Donald Trump não lhe causou grande surpresa pelo fato de que o líder norte-americano já vinha dando sinais contraditórios em relação à América Latina e ao Brasil. A estranheza, segundo ela, é por conta de essa "lua de mel" ter acabado "cedo demais".

"Acho que, de alguma forma, a gente sabia que essa lua de mel, entre aspas, que o Brasil vivia com a economia americana, em algum momento, iria acabar", disse ela em declarações à Sputnik, também descartando a possibilidade de o governo brasileiro ter tentado influenciar na desvalorização do real.

A especialista do Insper considera que, dado o atual momento político dos EUA, onde, em meio a um processo de impeachment, Trump se prepara para uma nova disputa eleitoral, o anúncio feito por ele nesta manhã poderia muito bem configurar uma sinalização para o público interno, para seus eleitores.

"Isso tem um claro viés, um claro sinal, de que ele está querendo dizer para seus eleitores e, eventualmente, para aqueles que ele ainda está tentando trazer para o seu lado que existe uma política de proteção à economia local, aos produtores, a tentar fazer com que os Estados Unidos continuem tendo o protagonismo na economia mundial que sempre tiveram", explica Inhasz. 
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