As restrições impostas pelos EUA impedem que as empresas norte-americanas vendam componentes à empresa chinesa, contudo, a Huawei segue se desenvolvendo e avançando no mercado, enquanto que o governo chinês retribui as restrições, que podem causar grandes prejuízos às empresas norte-americanas, e a Sputnik explica os detalhes e perspectivas resultantes da histeria norte-americana na "guerra fria tecnológica".
Guerra comercial e avanço da Huawei
EUA e China estão em tensão desde a campanha presidencial norte-americana de 2016, quando Donald Trump incluiu ameaças de medidas comerciais contra a China em seu discurso.
As tensões aumentaram nos primeiros meses de 2018, quando Trump anunciou tarifas de importação a produtos chineses, onde as sobretaxas incidiram sobre US$ 60 bilhões (R$ 247 bilhões) em produtos chineses vendidos aos EUA.
Como retaliação, a China também anunciou tarifas de importação, gerando uma série de ataques protecionistas mútuos, com objetivo de levar vantagem de um país sobre o outro no comércio internacional.
Dentro desse cenário, a tecnologia virou alvo dos conflitos entre as duas grandes economias, criando uma "guerra fria tecnológica" entre os EUA e a Huawei, principal alvo de Trump, que incluiu a empresa chinesa na lista negra como uma forma de atingir e reter o desenvolvimento da gigante de telecomunicações da China.
Contudo, boicotada pelos EUA, a Huawei decidiu avançar e produzir suas tecnologias e produtos sem componentes norte-americanos, adotando uma série de estratégias em resposta à ofensiva do governo de Trump.
Com isso, a pressão de Trump falhou e desencadeou uma série de consequências para as empresas norte-americanas, e a principal delas é o grande prejuízo com que as empresas terão de arcar, já que elas serão privadas de utilizar os dispositivos chineses para coletar dados e vender publicidade em todo o mundo, além da queda de produção para os fabricantes de semicondutores nos EUA.
Enquanto isso, a Huawei se fortalece, utilizando componentes de outros parceiros ou seus próprios, conquistando sua independência dos EUA em equipamentos de telecomunicação, como modems e estações-base utilizadas no desenvolvimento da infraestrutura responsável pela quinta geração de internet móvel, o 5G.
Papel da Huawei nas desavenças entre EUA e China
A "guerra fria tecnológica" criada pelos EUA contra a Huawei teria como justificação questões de segurança, já que o governo de Trump alega que a empresa chinesa estaria espionando os norte-americanos através dos equipamentos eletrônicos.
Para piorar, em dezembro de 2018 Meng Wanzhou, diretora e filha do fundador da Huawei, foi presa pelas autoridades canadenses a mando dos EUA, que alegam que ela teria violado as sanções norte-americanas ao enviar equipamentos norte-americanos ao Irã.
O ato deu início a uma série de ataques diretos, que resultaram no conflito tecnológico entre EUA e China. Trump, sem perder tempo, ampliou sua histeria e atacou a Huawei, barrando o uso de seus produtos e de outras empresas chinesas nas agências governamentais dos EUA.
"Acredito que a aquisição ou uso irrestrito nos EUA de tecnologias de informação e comunicação projetadas, desenvolvidas, manufaturadas ou fornecidas por adversários estrangeiros aumenta a habilidade de adversários estrangeiros de criar e explorar vulnerabilidades [...] com possíveis efeitos catastróficos, portanto, constitui uma ameaça extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos EUA", citou Trump em seu decreto.
Em contrapartida, a China decretou medidas similares, proibindo tecnologias estrangeiras nos órgãos públicos do país. Além disso, o Ministério das Relações Exteriores da China questionou as suspeitas contra a Huawei, afirmando que os EUA estavam se utilizando de uma ferramenta política para agir na economia, e negou que a empresa chinesa seja uma ameaça à segurança nacional norte-americana.
Conflitos e perspectivas em torno da tecnologia 5G
O sinal de telefonia móvel de quinta geração, ou tecnologia 5G, é um dos principais alvos de conflitos entre EUA e China, isso porque o governo norte-americano segue pressionando diversos países com objetivo de impedir a crescente atuação de empresas chinesas em um mercado central para o desenvolvimento de novas tecnologias.
O 5G deve ser utilizado em breve para recursos como drones, veículos autônomos, realidade aumentada e realidade virtual, que precisam de uma conexão robusta.
Essa tecnologia já é operada nos EUA, Coreia do Sul e Uruguai. Por sua vez, a Huawei, Nokia e Ericsson dominam a infraestrutura da rede. Entretanto, é o papel da Huawei que está preocupando e causando reações do governo dos EUA.
A Casa Branca considera que a Huawei possa utilizar o 5G para capturar dados e entregá-los ao governo chinês, e por isso os norte-americanos tentam conter o avanço chinês, inclusive no Brasil, exercendo pressão contra os países interessados no serviço da empresa chinesa.
Recentemente, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, advertiu Portugal sobre o risco de ter a companhia chinesa Huawei operando a tecnologia 5G no país.
"O Partido Comunista da China não vai hesitar em usar qualquer ferramenta que tenha nas mãos para reprimir seu próprio povo e outros ao redor do mundo", afirmou Mike Pompeo.
Em resposta, o chanceler português, Augusto Santos Silva, garantiu que os processos para a operação do 5G no país vão defender a segurança nacional, mas não mencionou impedimentos à participação da Huawei.
"A economia deve ser subordinada ao poder político, à ordem política democrática e aos nossos interesses de segurança nacional. E assim sucederá na área crítica das telecomunicações, designadamente na evolução para a quinta geração", disse o ministro.
Apesar de toda a histeria e pressão dos EUA, a Huawei segue avançando, e nesta quinta-feira (12) obteve mais uma vitória, já que em conjunto com a Ericsson, fornecerá a tecnologia 5G à Alemanha.
Huawei e Brasil
A empresa chinesa Huawei deixa claro que está focada na implantação da tecnologia 5G no Brasil, depois que regressou oficialmente ao país em maio deste ano.
Além da tecnologia 5G, a Huawei tem planos de comercializar novos modelos de smartphones e intensificar a participação de players brasileiros na App Gallery, através da Huawei Ability Gallery.
Essa estratégia está presente em mais de 170 países e possui 15 centros de pesquisa na Ásia, Europa e América do Norte, afirmou Daniel Dias, gerente da Go-to-market da Huawei.
"Entendemos que, para nos consolidarmos na segunda posição do ranking mundial de vendas de smartphones, seria novamente interessante atuar no Brasil [...] Trabalhamos para trazer ao mercado brasileiro o que o consumidor local tem buscado da Huawei no exterior", explica Dias ao InfoMoney.
Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro se reuniu com executivos da Huawei no Brasil, que confirmaram o desejo de participar da implantação do 5G no Brasil, inclusive demonstrando disposição para acelerar a construção da infraestrutura necessária no país.
"Pretendemos continuar ampliando o portfólio de produtos no país por meio da estratégia '1+8+N', com foco no 5G para oferecer produtos que se interliguem nesse ecossistema", completa Daniel Dias, gerente da Go-to-market da Huawei.