Esta foi uma das questões abordadas no seminário “O Futuro da Parceria Estratégica Global China-Brasil”, realizado na sexta-feira (13) no Rio de Janeiro.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o professor da FGV Direito Rio e coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da FGV, Evandro Carvalho, destacou que a presença da China no evento mostrou um sinal de que o país asiático acredita no potencial de investimentos no Brasil.
"O governo chinês tem claro de que a população brasileira é capaz de passar por momentos difíceis na sua economia, na sua situação social, e se refazer. Então os investimentos chineses são pensados não olhando apenas para a situação presente, mas para uma situação de longo prazo", afirmou o Evandro Carvalho, que também coordenou o seminário realizado na última semana no Rio.
O especialista destacou que durante a visita ao Brasil na cúpula dos BRICS, o presidente chinês Xi Jinping disse que a perspectiva de investimentos no longo prazo da China no Brasil está na ordem de 100 bilhões de dólares, principalmente em projetos nas áreas de energia e infra-estrutura.
"Há um interesse muito grande por parte do governo chinês de aprofundar as relações dos dois países através de apoios e patrocínios, de iniciativas na área da cultura, a fim de reduzir a distância cultural, o entendimento que cada povo tem do outro, e provavelmente haverá uma onda muito forte de investimentos na área de tecnologia e serviços", completou.
Reaproximação com a China
O professor da FGV também comentou que a primeira fase do governo Bolsonaro foi marcada por uma tentativa de reaproximação com a China após as controversas declarações do presidente ainda no período eleitoral, no ano passado, terem gerado um mal estar com o país asiático.
"Sem dúvida as declarações do então candidato Bolsonaro naquele contexto da eleição gerou um certo stress, uma preocupação por parte do governo chinês sobre como seria a política externa brasileira em relação à China, até porque havia uma retórica, que ainda persiste em certos setores do governo, uma retórica anti-comunista", afirmou.
O especialista destacou que num curto período de tempo houve dois encontros entre os presidentes Jair Bolsonaro e Xi Jinping, em que houve declarações do líder brasileiro indicando um redirecionamento da visão dele em relação à China.
"O fato é que há uma tentativa de acomodação, de um lado, com o governo chinês, de dizer que a China faz parte do futuro do Brasil, e, ao mesmo tempo, de aplacar algum ânimo contra a China por parte do seu público eleitoral ao dizer que a China é um país capitalista. É um esforço do Bolsonaro de tentar refazer a retórica em relação à China", observou.
De acordo com ele, o governo brasileiro vem tentando isolar a relação bilateral com a China de "eventuais contaminações do próprio discurso que o próprio presidente Bolsonaro imprime na política doméstica".