Como EUA poderiam aproveitar 'histeria' de coronavírus na guerra comercial com China?

Apesar da acalmia dos mercados mundiais após o Brexit e a assinatura da primeira fase do acordo comercial entre os EUA e a China, o surto de coronavírus colocou os índices bolsistas em queda.
Sputnik

Agora, há especialistas defendendo a tese de que os EUA poderão querer tirar dividendos na guerra comercial que mantêm com a China, usando a epidemia em seu favor.

Apesar de todos os esforços empreendidos pelo governo chinês para conter e evitar a disseminação do vírus, as bolsas mundiais manifestam nervosismo, tendo o índice chinês Hang Seng caído 6%.

Como EUA poderiam aproveitar 'histeria' de coronavírus na guerra comercial com China?

Há vozes que acusam alguma mídia de empolar a epidemia, fomentando uma histeria coletiva.

A influência do surto na economia mundial é perfeitamente compreensível dada a posição que a China ocupa no mercado, como grande produtor e consumidor de bens que é. A quarentena de cidades inteiras teria forçosa e igualmente efeito no comércio global.

O surto está sendo hiperbolizado?

O coronavírus 2019-nCoV não é a primeira epidemia a influenciar negativamente os mercados na última década.

Contudo, certa mídia parece agora estar exagerando, especialmente tendo em conta que o vírus não se mostrou até agora tão mortífero quanto o propalado.

Segundo afirmou Denis Rancourt, investigador da Associação das Liberdades Civis de Ontário (Canadá) e cientista social, todas as pandemias históricas de gripe resultaram em "um milhão de mortes ou mais".

O coronavírus causou até agora apenas algumas centenas de mortes, muito menos do que o frio comum nas grandes cidades ocidentais.

Provavelmente devido ao notório esforço governamental de contenção e de prestação de cuidados médicos, a taxa de mortalidade do vírus é de 1,5%, bem menor em comparação com a mortalidade do anterior surto de coronavírus no Oriente Médio em 2012, que atingiu uma taxa de 39% de falecimentos.

Tal como os anteriores surtos de vírus na China - a Síndrome Respiratória Aguda (SARS) em 2002 e a "gripe aviária" em 2013, o coronavírus tem recebido significativa cobertura midiática.

Quem beneficia e sofre mais com o coronavirus?

A "histeria" instalada começou a afetar a China economicamente. Várias empresas americanas, incluindo a Google, Starbucks e Apple, anunciaram recentemente que fechariam seus escritórios, fábricas e lojas na China para evitar a disseminação do vírus.

Numerosos países, entre os quais os EUA, Austrália e Rússia, adotaram severas limitações às ligações de transporte com a nação asiática, receando que os turistas chineses possam trazer o coronavírus com eles.

A epidemia está enfraquecendo economicamente o gigante asiático. Kevin Dowd, professor de finanças e economia da Durham University Business School no Reino Unido, acredita que alguns países poderiam usar a epidemia em seu favor, exercendo pressão sobre a China.

Dowd recorda que já foram impostas determinadas restrições à liberdade de circulação dos cidadãos chineses e que é apenas uma questão de tempo até que limitações semelhantes sejam implementadas relativamente às mercadorias importadas da China.

"Se você for um protecionista sem escrúpulos procurando pretextos para impor barreiras alfandegárias à China, então o coronavírus se encaixa nisso. Gostaria muito de pensar que os políticos não descerão tão baixo, mas quando se trata de comércio, a experiência passada nos diz que vale tudo", afirmou.

Além de afetar negativamente a situação econômica da China, o surto surge em um momento crucial para o país - logo após a assinatura da primeira fase do acordo comercial com os EUA e antes do início da segunda fase de negociações.

Pouco se sabe sobre o que nos trará esse segundo turno, mas o chefe do Tesouro americano, Steve Mnuchin, já declarou que a assinatura da segunda fase do acordo não implicará necessariamente a eliminação de todas as tarifas já impostas aos produtos chineses.

O professor Dowd acredita que é "inteiramente possível" que Washington tente usar a epidemia de coronavírus a seu favor e a fraqueza da China daí resultante, obtendo assim condições mais favoráveis para os EUA.

Como EUA poderiam aproveitar 'histeria' de coronavírus na guerra comercial com China?

Já Denis Rancourt, por sua vez, é de opinião que, apesar de a China ser de fato considerada como o seu maior concorrente no plano econômico, é improvável que o acordo comercial venha a ser significativamente afetado pelo surto do vírus.

Contudo, o 2019-nCov pode ser usado como uma "oportunidade de campanha geopolítica" para isolar a China, acrescenta o pesquisador. Rancourt teme igualmente que manifestações internas nos EUA de racismo anti-chinês possam ser exploradas politicamente para apoiar políticas agressivas contra a China, incluindo políticas protecionistas.

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