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Celebrado por Bolsonaro, acordo militar não garante acesso ao mercado dos EUA, diz analista

O presidente Jair Bolsonaro espera trazer na bagagem de sua nova visita oficial aos EUA um acordo militar que pode chegar a US$ 100 bilhões para financiamento de projetos, mas o documento pode ter mais contras do que prós, segundo um analista ouvido pela Sputnik Brasil.
Sputnik

"[O acordo] nos abriria a possibilidade de participar de fundos de investimento, nessa parte de tecnologia militar, muito vultosos, que chegam a US$ 100 bilhões", revelou na quinta-feira passada o chanceler brasileiro Ernesto Araújo, em audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.

Bolsonaro se encontrará com o presidente estadunidense Donald Trump neste sábado na Flórida, e depois participará de uma série de agendas com autoridades dos EUA e empresários. A comitiva espera fechar em solo norte-americano o acordo, conhecido pela sigla RDT&E (sigla inglesa para pesquisa, desenvolvimento, testes e avaliação) antes do retorno ao Brasil.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o jornalista Pedro Paulo Rezende, especialista em assuntos militares e de relações internacionais, destacou que o documento, se firmado entre os dois países, dará acesso para as empresas brasileiras de recursos estadunidenses, conforme havia dito o ministro das Relações Exteriores aos senadores.

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Contudo, ele não vê com grande otimismo a possibilidade de um grande impacto no mercado de defesa brasileiro, já que o dinheiro de Washington só seria liberado para projetos de interesse dos EUA. Mais do que isso: o acordo não representa qualquer garantia imediata de acesso ao mercado norte-americano de defesa.

"[O acordo] significa que algum equipamento que possa interessar aos EUA para distribuição internacional ou como forma de obter uma determinada tecnologia poderá receber financiamento do governo dos EUA. Boa parte da nossa indústria de defesa é formada por startups, ou seja, empresas muito pequenas e que tem pouco fôlego financeiro. Nesse ponto seria interessante. Agora, por outro lado, não garante acesso ao mercado dos EUA que é o maior do mundo", estimou Rezende.

A presença de tecnologia brasileira sob os olhares do mercado norte-americano também não é garantia de sucesso. O jornalista resgatou um episódio quando uma empresa estadunidense licenciada pela Embraer começou a oferecer para vários países o modelo Embraer-314, o Super Tucano. Mesmo com uma grande expectativa, os resultados ficaram aquém do esperado.

"Havia uma grande expectativa de uma encomenda enorme da Força Aérea dos EUA e, [quando] finalmente saiu a esperada encomenda, eles pediram dois aviões. Por outro lado, a gente conseguiu vender para o Iraque, para o Afeganistão, tudo via FMF [Financiamento Militar Estrangeiro, na sigla em inglês], mas tudo isso dá cerca de 100 aviões, muito longe do que se esperava. Tem alguns aviões e equipamentos que poderiam interessar aos EUA, um deles é o KC-390 da Embraer, o cargueiro militar, mas esse projeto já está pronto. Não precisa de mais pesquisa e desenvolvimento, ele está prontinho. Ele pode ser usado imediatamente", pontuou.

Otimismo para quem?

Ao site G1, o Ministério da Defesa do Brasil informou que "a assinatura do acordo RDT&E com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos engloba atividades conjuntas nas áreas de Pesquisa, Desenvolvimento, Testes e Avaliação, visando novas ou melhores capacidades militares".

"[O acerto] proporcionar que as Empresas de Defesa (ED) e Estratégicas de Defesa (EED) brasileiras tenham acesso às melhores práticas internacionais em seus processos produtivos. Além disso, permitirá o desenvolvimento de projetos em conjunto com as empresas norte-americanas. Tudo sob a supervisão do Ministério da Defesa brasileiro e do Departamento de Defesa dos Estados Unidos", completou a pasta.

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Para o especialista ouvido pela Sputnik Brasil, tão logo o acordo seja assinado e aprovado pelos Congressos dos dois países – um processo que pode levar até cinco anos –, há uma expectativa de crescimento pequeno para a indústria de defesa brasileira, "muito longe desse otimismo que está sendo apregoado". Ele ainda relembrou a fusão entre Embraer e Boeing como um exemplo do que pode acontecer com a grande parte da indústria de defesa do Brasil.

"Também depende de uma capacitação das nossas empresas. Pode até acontecer de empresas brasileiras serem absorvidas por empresas americanas nesse processo, como a Boeing né [...] Existe esse risco. Já houve campanha de contratação de pessoal brasileiro em São José dos Campos (SP) por empresas americanas, prometendo mundos e fundos para quem fosse para os EUA", explicou o analista.

Questionado se Bolsonaro tentará usar o acordo como uma medida positiva, Rezende ressaltou que, embora essa seja a tendência, os números apontam para uma queda no comércio com os EUA, o que significa, em sua opinião, que o alinhamento automático que Brasília vem tendo com Washington não tem trazido resultados expressivos.

"É preciso ressaltar o seguinte: com todo esse alinhamento automático do Brasil com os EUA [...], o comércio caiu 10% no ano passado. É uma coisa aparentemente contraditória, mas é verdadeira. Ou seja, caiu ao invés de crescer. E onde cresceu foi na importação de equipamentos americanos para o Brasil, não foi na exportação de bens brasileiros para os EUA. Compramos bem mais do que vendemos", acrescentou.

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