Sistema de defesa antimíssil dos EUA está obsoleto, segundo Forbes

O Pentágono só alocou US$ 50 bilhões em gastos de defesa antimíssil dos EUA de 2001 a 2019, 5% do dinheiro utilizado na guerra contra o Afeganistão.
Sputnik

No final de 2019, à gigante aeronáutica Boeing foi oferecido um contrato de modificação no valor de mais de um quarto de bilhão de dólares para atualizar o sistema de interceptores Defesa Intermédia de Baseamento Terrestre (GMD na sigla em inglês) dos EUA, que foi projetado para interceptar mísseis balísticos intercontinentais e suas ogivas no espaço exterior fora da atmosfera terrestre.

Washington, ao longo do tempo, tem dependido largamente da ameaça de retaliação maciça para dissuadir seus adversários, como as potências nucleares Rússia e China, em vez de construir defesas reais, optando pela solução mais barata. No entanto, em breve poderá ter de enfrentar as consequências de suas decisões nas primeiras décadas do século XXI, acredita Loren Thompson, um contribuinte sênior em segurança nacional da revista Forbes.

Em um artigo escrito para a Forbes, o analista afirma que Washington gastou US$ 1 trilhão (R$ 4,63 trilhões) entre 2001 e 2019 no Afeganistão contra o Talibã (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países), ao mesmo tempo que alocou apenas 5% desse montante, US$ 50 bilhões (R$ 231,4 bilhões), para sua própria defesa contra um potencial ataque de mísseis balísticos de uma potência nuclear.

O chefe de operações do Instituto Lexington, organização sem fins lucrativos, ressalta a aparente falácia desta decisão, pois não ficou claro se novos "potenciais agressores" emergentes, como uma Coreia do Norte ou um Irã armados com armas nucleares, poderiam ser dissuadidos por ameaças de retaliação. Nas novas circunstâncias, os EUA optaram por reforçar sua política de dissuasão com o dito sistema de Defesa Intermédia de Baseamento Terrestre.

O sistema, no qual a maior parte dos 50 bilhões de dólares alocados para a defesa nacional foram gastos, era destinado a interceptar mísseis de ataque em meio a suas trajetórias, ou seja, no espaço.

No arsenal americano, refere o relatório, a GMD é o único sistema capaz de interceptar mísseis balísticos intercontinentais que tenham o país como alvo.

Vantagens da atualização

"A boa notícia sobre o sistema de Defesa Intermédia de Baseamento Terrestre é que ele defende os Estados Unidos inteiro, de modo que pode rechaçar um pequeno ataque menor vindo de qualquer direção, incluindo, por exemplo, um lançamento acidental de mísseis pela Rússia", escreve a fonte.

No entanto, a principal fraqueza da GMD são seus interceptores terrestres. Estes últimos exigiriam atualizações frequentes para estar à altura do desafio de novas ameaças potenciais, como a que uma Coreia do Norte equipada com armas nucleares poderia apresentar, reconhece o autor.

Sistema de defesa antimíssil dos EUA está obsoleto, segundo Forbes

A Defesa Intermédia de Baseamento Terrestre atualmente compreende apenas 44 mísseis interceptores em silos, ao mesmo tempo que, de acordo com o relatório, uma única ogiva nuclear inimiga muito provavelmente exigiria dois a quatro deles.

Consciente da urgência de uma atualização do interceptor, o Congresso já solicitou que o número desses interceptores seja aumentado em 20, com novos mísseis programados para estarem prontos em 2022.

Entretanto, de acordo com analistas de inteligência, que identificaram 49 potenciais melhorias de mísseis inimigos, os arsenais nucleares de um potencial adversário devem crescer em sofisticação, contando com o aumento do uso de engodos e ogivas múltiplas ou manobráveis. Estas exigiriam que atualizações de nova geração fossem reveladas dentro de uma ou duas décadas.

Há vários anos, a Agência de Defesa de Mísseis (MDA, na sigla em inglês) do Pentágono veio com uma solução, esperando redesenhar o "veículo assassino" dos interceptores para se tornar um Veículo Assassino Redesenhado (RKV, na sigla em inglês) mais "ágil", melhorando ao mesmo tempo os impulsionadores de foguete que o transportam.

Além de usar o RKV para substituir os velhos "veículos assassinos" na frota atual, o sistema da MDA tinha planejado implantar os RKV a partir de 2021 em 20 novos interceptores no estado norte-americano de Alasca, para aumentar a frota existente de 44 interceptores lá e na Califórnia.

Era esperado que o RKV se mostrasse mais fidedigno e eficiente que a atual geração de veículos assassinos exoatmosféricos da Defesa Intermédia de Baseamento Terrestre. Estes tinham demonstrado resultados de testes mistos, com a taxa de sucesso de intercepção do sistema projetada para estar um pouco acima dos 50% em testes controlados. O projeto, porém, deparou-se com "problemas intransponíveis".

Problemas na projeção

Uma declaração do Pentágono de 21 de agosto de 2019 dizia que, a partir do dia seguinte, o Pentágono iria rescindir o contrato com a Boeing para construção do Veículo Assassino Redesenhado "devido a problemas do projeto técnico".

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O anúncio seguiu-se à decisão, em maio, de ordenar à Boeing, o principal empreiteiro da Defesa Intermédia de Baseamento Terrestre no valor de US$ 67 bilhões (R$ 310 bilhões), para parar todo o trabalho no novo veículo assassino. O Congresso havia reservado mais de US$ 1 bilhão (R$ 4,6 bilhões) para o programa de RKV, desde seu início no ano fiscal norte-americano de 2015 até o ano fiscal de 2019.

Depois do fim do programa de RKV, o Departamento de Defesa sugeriu desenvolver um interceptor de longo alcance totalmente novo, com um novo veículo assassino, um novo impulsionador e outros itens para derrotar a "ameaça em evolução", como a única solução viável.

Segundo o autor, no curto prazo, o problema é que os interceptores da próxima geração simplesmente não estarão prontos antes daquilo que é uma hipotética "ameaça" se tornar realmente um verdadeiro desafio.

"Essa é a única solução viável a longo prazo. No entanto, a curto prazo, há um problema: os interceptores da próxima geração não estarão provavelmente prontos antes que a ameaça se torne demasiado desafiante para os interceptores existentes. Mesmo se os obstáculos técnicos possam ser superados, os testes e a política provavelmente irão atrasar o progresso. O que fazer?", questiona o contribuinte da revista.

Obstáculos técnicos à parte, as fases de teste e as políticas decorrentes são susceptíveis de abrandar o progresso.

O que pode ser feito?

O analista acredita que a Agência de Defesa de Mísseis tem duas opções básicas: atualizar os interceptores existentes para lidar com a ameaça por mais alguns anos, ou admitir que "embotar" os interceptores da próxima geração os deixará prontos muito mais cedo.

Isso poderia servir um propósito a curto prazo, mas ao final nenhum dos sistemas estaria à altura da tarefa de defender os EUA.

O analista da Forbes sugere que a "resposta óbvia" é assegurar que os interceptores terrestres existentes mantenham sua eficiência durante mais tempo.

É aqui que entra a Boeing, que propõe à Agência de Defesa de Mísseis "alavancar" tecnologias desenvolvidas no âmbito do projeto de veículos assassinos cancelado para tornar a GMD viável até 2030. Após essa data limite, se prevê disponível uma possível substituição.

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A Boeing sugere a atualização dos 20 novos interceptores aprovados pelo Congresso para que eles sejam capazes de lidar com 85% das ameaças da próxima geração.

Acredita-se que os 15% de ameaças restantes, que se prevê surgirem algures em meados dos anos 2030, só possam ser contrariadas por um novo interceptor.

A Boeing oferece a atualização do projeto do veículo assassino cancelado pelo custo estimado de cerca de US$ 2,7 bilhões (R$ 12,9 bilhões).

Assim, de acordo com o analista da Forbes, se a Agência de Defesa de Mísseis tem alguma esperança de acompanhar os desafios que as ameaças potenciais sempre em evolução apresentam, a solução provisória da Boeing pode surgir como um curso de ação viável.

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