A tradicional competição de países sul-americanos aconteceria neste ano na Argentina e na Colômbia, porém a disseminação do COVID-19 pelo mundo e seus reflexos na sociedade não deixaram o esporte – por consequência, o futebol – de fora da onda de cancelamentos e adiamentos. Horas depois, também nesta semana, a UEFA também adiou a Eurocopa, torneio de seleções do Velho Continente.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o coordenador acadêmico do Programa Executivo FGV/FIFA/CIES (Centro Internacional de Estudos do Esporte), Pedro Trengrouse, destacou que as entidades esportivas como a Conmebol e a UEFA tomaram uma decisão que, diante da incerteza em torno do futuro a curto prazo, lhes permite ganhar fôlego.
"Aquelas entidades que adiaram eventos terão mais tempo para se preparar, para se reorganizar. Agora, aqueles que apostam na solução mais rápida dessa questão de saúde e mantenham os seus eventos para julho, agosto, talvez tenham de rever a decisão em breve porque determinadas questões não são decididas por uma, duas, três pessoas, mas sim pela conjuntura, pelo governo dos países envolvidos", avaliou.
Trengrouse falava mais especificamente de outro evento esportivo previsto para este ano e que segue sendo garantido pelas autoridades esportivas: os Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão, previstos para acontecer em alguns meses em uma nação que ainda tenta estabilizar a situação do novo coronavírus em seu território, que fica não muito distante da China, epicentro da pandemia mundial.
Questionado pela Sputnik Brasil se a transferência de cidade resolveria a questão das Olimpíadas em um cenário mais extremo, o professor da FGV demonstrou ceticismo, uma vez que a questão é muito mais ampla do que o escopo de parte da sociedade parece querer acreditar.
"A transferência de cidade eu não sei se resolve o problema. A gente espera que até lá essa situação já esteja contornada. É óbvio que o impacto na preparação dos atletas já existe, mas havendo condição de realização dos jogos eu não vejo porque não realizá-los porque o impacto na preparação foi para todo mundo. Então todo mundo está nas mesmas condições em tese", explicou.
"O que adianta querer manter os Jogos Olímpicos se as pessoas não puderem viajar para ver? O que adianta manter os Jogos Olímpicos se o Japão decretar um estado de emergência, de calamidade e impedir os eventos de acontecerem lá? Então a situação que temos hoje é muito instável, cada vez que a gente olha está de um jeito. Pode ser que a decisão de manter os Jogos seja revista pelo próprio COI ou se tornará obrigatória a revisão em razão do cancelamento dos voos, em razão de uma postura do governo dos próprios países, ou do governo do próprio Japão, sede dos Jogos", acrescentou.
O analista ouvido pela Sputnik Brasil alertou ainda que, em sua opinião, é difícil definir os impactos da pandemia no esporte ou quanto tempo isso ainda possa afetar atletas, técnicos e torcedores. Contudo, em uma situação que ele prevê que será de "mais falências do que falecidos", referindo-se às quebras que estão sendo esperadas na economia, o foco deve ir além da economia.
"A gente enfrenta uma crise de liquidez e ela vai atrapalhar nos pagamentos dos salários de toda a cadeia produtiva da indústria do entretenimento, o que tem reflexos em todos os arranjos produtivos que, imagina, as pessoas que não recebem os seus salários não consomem; os impostos que não são pagos neste momento em que o Estado tem que gastar ainda mais, principalmente com saúde mas também com pacotes de estímulo à economia, então essa crise que a gente vive é muito grande. A gente vai ter mais falidos do que falecidos e isso também precisa ser considerado. Agora não tem a menor dúvida que neste momento a maior prioridade é a vida e isso não pode ser jogado ao segundo plano. Nós temos que cuidar das pessoas", sentenciou.