Os buracos de ozônio naturais são mais típicos das camadas atmosféricas acima da Antártica, que está rodeada por vastos oceanos abertos, do que no Ártico, mas esta estação de inverno no hemisfério norte parece ter sido uma exceção extremamente rara.
Temperaturas abaixo de zero provocaram a queda nos níveis de ozônio, deixando um buraco que se estende da baía de Hudson, no nordeste do Canadá, até às ilhas russas do norte do Ártico, informou a revista Newsweek, referenciando um vídeo do Observatório do Ozônio Ártico da NASA, que mostram como a camada de ozônio na área tem vindo a encolher desde o início de março.
Camada de ozônio mínima de 2020 no Ártico. Condições meteorológicas especiais levaram a temperaturas estratosféricas abaixo de -80 °C. Assim, devido à luz solar e à química, são observados valores de ozônio muito baixos. Normalmente a estratosfera sobre o Ártico é quente demais e o vórtice polar demasiado instável.
Embora um buraco na camada de ozônio apareça a cada primavera acima da Antártica, que é tipicamente muito mais fria que o Ártico devido a ser rodeada por continentes montanhosos em vez de oceanos, este ano as temperaturas caíram no Ártico, causando uma camada mais fina de O3.
"A condição de baixas temperaturas (temperaturas inferiores a cerca de -78 °C) no Ártico é muito menos comum", disse à fonte John Pyle, um cientista atmosférico da Universidade de Cambridge, Reino Unido, explicando os detalhes das condições meteorológicas observadas:
"Curiosamente, o buraco de ozônio da Antártica no ano passado foi bastante pequeno; as temperaturas na baixa estratosfera foram mais altas que o normal. Em contraste, esta estação inverno/primavera ártica tem visto um vórtice polar estratosférico baixo muito forte e temperaturas muito baixas e persistentes", disse Pyle.
O cientista diz que são "as condições meteorológicas que estabelecem a condição [o buraco de ozônio maior que o normal] – e neste ano o Ártico tem sido excepcional".
Markus Rex, cientista atmosférico do Instituto Alfred Wegener em Potsdam, Alemanha, afirma que tem havido mais ar frio acima do Ártico do que em qualquer outro inverno nos últimos 40 anos, cita a revista Nature.
Razão do encolhimento de ozônio
No entanto, há pouco com que se preocupar, uma vez que o encolhimento de ozônio provavelmente começará a ser reparado ao longo das próximas semanas, garantem os pesquisadores:
"Estamos entrando na primavera. A atmosfera vai aquecer e os padrões do vento vão mudar. Isso porá um fim ao encolhimento, e o encolhimento se reparará", disse Martyn Chipperfield, professor de química atmosférica da Universidade de Leeds, no Reino Unido, à Newsweek.
Chipperfield reconhece que qualquer mudança na formação da camada de ozônio e no movimento do buraco pode ser "facilmente rastreada".
Ao mesmo tempo, os riscos de maior encolhimento da camada de ozônio estão diminuindo, já que, segundo Chipperfield, as proibições introduzidas no Protocolo de Montreal de 1987 verão os níveis de produtos químicos que encolhem a camada de ozônio baixar ainda mais.
Nos anos 80, notou-se pela primeira vez que a camada de ozônio acima da Antártica estava se tornando cada vez mais fina, com os cientistas determinando a causa: os excessos de compostos artificiais conhecidos como clorofluorcarbonos (CFC).
De acordo com o Protocolo de Montreal, os químicos considerados como nocivos para o ozônio são proibidos por 196 Estados membros das Nações Unidas e pela União Europeia. Assim, acredita-se que o buraco que surge anualmente acima da Antártica tem uma causa natural, ou seja, temperaturas mais frias que o normal, e também se repara naturalmente à medida que o tempo passa.