Poderiam países elaborar estratégia comum frente à COVID-19 apesar de divergências geopolíticas?

Banco Central da China adverte ser possível uma crise comparável à da Grande Depressão se a epidemia do coronavírus não for controlada rapidamente, dificultando assim a recuperação econômica.
Sputnik

Para que tal não aconteça, é necessária uma ação concertada de todos os países. Mas, opinam diversas personalidades, isso será quase impossível.

Zhu Jun, diretor do Departamento de Cooperação Internacional do Banco Central, em declarações à Sputnik China, refere que as ações empreendidas pelos bancos centrais dos países desenvolvidos têm consistido unicamente em medidas de estímulo monetário.

Assim, ao contrário das crises anteriores, que ocorreram no sector financeiro, a crise atual atinge todos os setores da economia, pois para evitar a propagação da epidemia foi necessário parar a produção e forçar a esmagadora maioria da população a cumprir quarentena, tendo um efeito dominó em praticamente todos os setores da economia.

Dmitry Peskov, o porta-voz do presidente russo, afirmou recentemente, comentando a situação na Federação da Rússia, que o confinamento durante o mês de abril constitui um enorme fardo para as empresas e para a economia no seu conjunto.

Mas foi decidido que o principal foco deveria ser na vida e saúde das pessoas. Peskov alertou ainda que a crise econômica mundial provocada pela pandemia ainda está por vir e que é preciso estar preparado para ela.

Peskov opinou que será necessária a coordenação de ações e medidas anticrise por parte dos vários Estados.

As posições russa e chinesa sobre a forma de lidar com as consequências econômicas do coronavírus são muito semelhantes. Anteriormente, Chen Yulu, chefe-adjunto do Banco Central da China, afirmou que o regulador está discutindo com os colegas da Reserva Federal dos EUA e do Fundo Monetário Internacional (FMI) abordagens conjuntas para resolver a crise e apelou a uma atenção especial às políticas comercial, monetária e fiscal.

Durante a última cúpula de emergência do G20, a China exortou à adoção de políticas macroeconômicas coordenadas para restaurar a economia mundial em resposta à pandemia.

China no bom caminho

Diferentemente da crise de 2008, a China desempenhará agora um papel mais ativo na recuperação econômica global. De qualquer maneira, a China tem tido até agora mais sucesso do que outros no combate às consequências da pandemia, reconheceu Aleksandr Gabuyev, chefe do Programa Asiático do Centro Carnegie de Moscou.

"A China pode minimizar as perdas durante a trajetória global de recuperação o mais rápido possível, porque foi capaz de introduzir quarentenas restritivas de uma forma obrigatória, minimizando as perdas humanas. Com medidas ativas de apoio governamental, a China pode acelerar sua recuperação econômica em 2021-2022", disse Gabuyev.

Embora 90% das grandes empresas na China já tenham retomado suas atividades e o índice PMI tenha recuado dos 35,7 de fevereiro e regressado a uma zona de crescimento de mais de 50, os mercados bolsistas ocidentais estão sofrendo um verdadeiro colapso.

O S&P perdeu 20%, o Dow Jones Industrial Average e o British FTSE 100 sofreram a maior queda desde 1987, perdendo cerca de um quarto. O índice global de ações MSCI AC World caiu 21,27% desde o início do ano. A propósito, em 2008 ele tinha caído 22,77%.

Solução comum

Face à recessão global provocada pela pandemia, parece bastante lógico pugnar por uma resolução conjunta dos problemas e pelo desenvolvimento de uma estratégia comum.

No entanto, Gabuyev acredita ser pouco provável que se encontre uma solução comum, mesmo se a pandemia durar bastante tempo. A culpa é das contradições geopolíticas.

Prevendo que uma vacina não apareça antes do verão de 2021, Gabuyev opina que, nesse caso, "a China estaria em melhores condições porque pode 'apagar' o fogo da economia com dinheiro das reservas", acreditando ser pouco provável "uma solução comum devido ao aumento da concorrência entre as grandes potências. Nesta situação, ganhará aquele que tiver as perdas mais baixas. Até agora, a China tem sido o principal candidato a este papel".

EUA preferem jogar a sós

Os EUA não querem coordenar suas políticas com outros países, mesmo quando eles próprios sofrem e não conseguem resolver a situação sozinhos.

Um exemplo é a queda dos preços do petróleo causada não só pela pandemia do coronavírus, mas também pela relutância de alguns países, especialmente os EUA, em chegar a acordo sobre o nível de produção de petróleo.

O presidente russo Vladimir Putin admitiu que os participantes da OPEP+ podem reduzir a produção de petróleo em 10 milhões de barris por dia em relação ao nível do primeiro trimestre de 2020, a fim de manter os preços do petróleo. Contudo, a Arábia Saudita só está disposta a aceitar o acordo se os EUA aderirem.

Embora os produtores de petróleo de xisto nos EUA estejam de acordo, por serem os que mais sofrem com os baixos preços devido a seus elevados custo de extração, o lobby da produção petrolífera nas estruturas de poder dos EUA é categoricamente contra quaisquer restrições à produção.

Teimosia dos EUA

Uma teimosia semelhante é demonstrada por Washington na luta contra o coronavírus. Na última cúpula do G20, a China apelou à eliminação das barreiras comerciais e à liberalização do comércio mundial para facilitar a recuperação da economia global.

A China incitou igualmente a uma coordenação internacional das políticas de quarentena e restrições a fim de reduzir a propagação da epidemia em conjunto.

Os EUA não só não tomaram medidas desse tipo, como também lá há quem questione se se justificam as restrições de quarentena excessivas. Entretanto, os EUA já há muito que ultrapassaram a China no número de casos de infectados.

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