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Economista sobre dívida do Brasil na OMS: 'somos servos do imperialismo americano'

Economista José Carlos de Assis culpa alinhamento do governo Bolsonaro com Donald Trump pela dívida do Brasil na Organização Mundial da Saúde (OMS).
Sputnik

Com uma inadimplência de aproximadamente R$ 169 milhões, o Brasil tem, entre os países membros, a quarta maior dívida com a OMS. Segundo o organismo da ONU, o governo de Jair Bolsonaro não pagou as duas últimas contribuições regulares, referentes aos anos de 2019 e 2020, que deveria ter feito como país membro.

Os últimos pagamentos foram feitos em 2019 e eram referentes à dívidas contraídas durante a gestão do presidente Michel Temer.

Sem levar em conta o aspecto financeiro, o chanceler Ernesto Araújo já declarou não considerar que o combate à pandemia da COVID-19 deva partir de orientações da OMS. Além disso, o núcleo do governo Bolsonaro tem demonstrado desagrado público com as determinações da organização internacional em época de crise na saúde.

Dessa forma, será que a inadimplência brasileira junto à OMS seria uma forma de demonstrar o desagrado das autoridades com as políticas da entidade, ou o comportamento de Brasília seria um reflexo da posição do governo Trump, que ameaçou suspender a transferência de suas contribuições para a organização?

​O economista José Carlos de Assis, professor aposentado de Economia Política e de Relações Internacionais da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba) e autor de mais de 25 livros sobre Economia e Ciências Políticas, não acredita que a dívida brasileira tenha relação com a atual crise da COVID-19.

O cientista argumentou em entrevista para Sputnik Brasil que a decisão de adiar os pagamentos foi adotada ainda em 2019, quando "ainda não tinha a pandemia e não tinha o sentido lógico dele [Bolsonaro] fazer uma retaliação".

O especialista acredita ser mais provável a versão de um alinhamento automático do governo Bolsonaro com o presidente norte-americano Donald Trump, "até porque Trump começou a atuar de forma agressiva em relação à OMS antes da pandemia".

"É uma tentativa de fazer um aliado de qualquer forma. Essa coisa serviçal e horrorosa. Nunca aconteceu antes na economia e sociedade brasileira um presidente se ajoelhar em frente ao outro de forma mais humilhante possível", disse José Carlos de Assis.

O acadêmico destacou que Bolsonaro sempre foi explícito em sua admiração pela maior economia do mundo e, em diversas ocasiões, manifestou seu encanto com o poderio militar estadunidense.

"É próprio desse tipo de servilismo adotar uma atitude nas relações internacionais dessa forma que foi feito, agredindo a própria história da diplomacia brasileira", lamentou o entrevistado.

Para ele, o fato do Brasil estar inadimplente junto à OMS reflete a posição ideológica do atual governo, o que não seria uma surpresa, visto que Bolsonaro quis até "fazer guerra contra a Venezuela", sendo dissuadido disso pelo comando militar.

Nesse contexto, para o economista, a posição do presidente brasileiro não seria uma novidade.

"Há uma antipatia do governo Bolsonaro em relação à organizações internacionais. Ele segue em linha com Trump. Ele consulta, provavelmente, o governo americano para fazer certas coisas. E mesmo onde o governo americano, por outras razões, não implementa medidas de retaliação, como no caso da OMS, Bolsonaro vai atrás. Somos servos do imperialismo americano, como se dizia antigamente. Esse é o governo que temos", concluiu.
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