Mundo precisa de alternativa ao dólar após pandemia, diz Bolsa de Ouro de Xangai

A entidade do centro financeiro da China afirma que os EUA estão abusando de seu estatuto de detentor da moeda de reserva global para enfraquecer países que não se submetem aos norte-americanos.
Sputnik

O dólar, como arma de pressão dos Estados Unidos e fonte de vulnerabilidade para outros países, não pode mais funcionar como moeda global, diz Wang Zheying, presidente da Bolsa de Ouro de Xangai, e adverte que o mundo precisará de uma alternativa ao dólar após a pandemia.

De acordo com Wang, o mundo precisa de uma nova moeda forte e independente de qualquer Estado para desenvolver o comércio internacional.

O problema com o sistema monetário dominado pelo dólar é que ele deixa os países vulneráveis a possíveis sanções dos EUA e ao poder de Washington de congelar os ativos internacionais de uma nação em caso de disputa, observou Wang, entrevistado pela Reuters.

Durante a recuperação pós-crise, o domínio do dólar causa muitos problemas para outros países devido à política de juros baixos da Reserva Federal dos EUA, o banco central do país.

"É uma arma para os EUA, mas uma fonte de insegurança para outros países", ressaltou.

Mundo precisa de alternativa ao dólar após pandemia, diz Bolsa de Ouro de Xangai

O diretor da Bolsa de Ouro de Xangai pediu o uso de uma nova moeda supranacional para reduzir o domínio global do dólar dos EUA.

"A moeda que o mundo escolher para o comércio mundial não deve ser uma que privilegie alguém ou exponha outros à insegurança", disse ele.

Wang previu uma queda de longo prazo do dólar e uma alta do preço do ouro.

Desafios para um concorrente

Mesmo assim, o ouro não é um meio de troca ideal, pois sua quantidade é limitada. Jia Jinjing, diretor do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade Popular da China, propõe o uso de tecnologias de moeda digital para implementar a ideia de uma nova moeda global.

"Agora há cada vez mais oportunidades. O Banco Popular da China lançou testes de moeda digital. Sua diferença do dinheiro convencional é que será completamente transparente e se verá para onde cada yuan está indo", disse ele à Sputnik China.

Jia Jinjing disse que podemos "usar a tecnologia de moeda digital para criar um sistema de liquidação internacional de acordo com as necessidades reais".

A China está lançando testes do yuan digital em quatro regiões do país: Shenzhen, Hunan, Chengdu e Suzhou. O yuan digital deverá substituir parcialmente o dinheiro físico e será introduzido em duas etapas: do Banco Central para os bancos comerciais e dos bancos comerciais para a população. O yuan digital terá a mesma soberania que a moeda fiduciária chinesa.

Mundo precisa de alternativa ao dólar após pandemia, diz Bolsa de Ouro de Xangai

Na primeira fase, o yuan digital será mais utilizado para pagamentos domésticos. O sistema é muito semelhante às carteiras eletrônicas Alipay e WeChatPay, que são populares na China. A introdução da moeda digital estatal permitirá controlar mais eficazmente a quantidade de dinheiro em circulação e conduzir a política monetária e regular os movimentos de capitais.

No entanto, isto não significa que o yuan digital se tornará um novo sistema de pagamento global. Em primeiro lugar, a moeda chinesa ainda não é livremente conversível, pois existem restrições aos fluxos de capital. E, como apontou o diretor da Bolsa de Ouro de Xangai, uma moeda controlada por um determinado estado não pode ter um bom desempenho nas condições atuais de globalização.

Passos em frente

Apesar de tudo, a China tem esse sistema melhor desenvolvido. O Banco Central da China registrou 84 patentes na área de moedas digitais, elas descrevem protocolos para o controle da emissão e circulação do yuan digital.

A entidade também criou mecanismos para acordos interbancários e a integração das carteiras digitais criptográficas do yuan na infraestrutura bancária existente.

Segundo o especialista, é mais provável que a moeda global supranacional para acordos internacionais seja emitida sob forma de dinheiro eletrônico. Isso reduziria significativamente os custos de transação e todas as dificuldades associadas ao armazenamento e transporte da moeda fiduciária.

Neste caso, a China já terá uma base tecnológica séria e competência para participar ativamente da formação de um novo sistema de pagamentos internacional.

Comentar