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'Ajuda externa para o meio ambiente só virá se Brasil mudar discurso e ministro', diz especialista

Segundo advogado, pedido de Ricardo Salles para que países críticos da política ambiental brasileira "ponham a mão no bolso" não será atendido a menos que o governo assuma suas responsabilidades.
Sputnik

O representante do Brasil na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas no ano que vem é a mesma pessoa que personifica hoje a política ambiental de "conflito de confiabilidade com a comunidade internacional" e que nesta quinta-feira (3) pediu aos países críticos do Brasil que coloquem recursos aqui: o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente.

Foi assim que o advogado especializado em Direito Ambiental, Antonio Fernando Pinheiro Pedro, definiu em entrevista para a Sputnik Brasil a situação em que o país se encontra na agenda ambiental.

"Vivemos uma realidade de negação em várias áreas e, naturalmente, no ambientalismo. Estamos, literalmente, andando para trás. E a menos que mudemos o discurso, que mudemos o ministro e que estabeleçamos uma organização administrativa e de gestão territorial e ambiental compatível com confiabilidade na relação com estes países, acho muito difícil conseguirmos dinheiro lá fora", disse o advogado.

A declaração de Salles aconteceu durante a tradicional transmissão do presidente da República de todas as quintas-feiras via Internet. Nela, o ministro foi confirmado como representante do governo na vigésima-sexta edição da Conferência, chamada de COP-26, que acontecerá em Glasgow, no Reino Unido, entre os dias 1 e 12 de novembro de 2021.

Até lá, se nada for feito para melhorar a imagem do Brasil, continuaremos confundindo valor com desvalor, como argumentou o advogado.

"O pensador e filósofo chinês Confúncio dizia que valor é assumir suas responsabilidades. E que desvalor é passar essa responsabilidade a outros. Estamos agindo assim, arrumando desculpas para a falta de condições gerenciais para lidar com crise ambiental. E aí fica muito difícil pedir ajuda financeira para quem, lá fora, olha para nós e enxerga uma operação de alto risco e uma administração inepta", defendeu Antonio Fernando Pinheiro Pedro.

Segundo o especialista, a questão não é apenas Salles. É, também, o que ele representa. O ministro segue um padrão de comportamento que agrada ao presidente Jair Bolsonaro. Com isso, "estamos desconstruindo as relações internacionais" e pondo em risco a própria noção de soberania, tão alardeada pelo governo quando os temas da Amazônia - desmatamento e direitos humanos de povos indígenas, por exemplo - são levantados.

"Se continuarmos assim, com este discurso primário e reativo, haverá um questionamento sobre o conceito de soberania nacional. Atualmente há uma relativização deste conceito e ela se refere a uma soberania, na verdade, afirmativa. Ou seja, para se manter uma soberania é preciso desenvolver ações que demonstrem efeito concreto sobre seu território. Ações que se traduzem em gestão ambiental, gestão da ordem pública e em eficiência na manutenção das instituições de resolução de conflitos. E hoje a gente vê que o governo não está exercendo este controle territorial efetivamente. E assim mostramos ao mundo uma relativização desta soberania", explicou Pedro.

Sem essa mudança de percepção, os governos e instituições internacionais só darão dinheiro a organizações, como as não governamentais, que possam desenvolver e acompanhar programas concretos com administradores competentes, estrutura técnica e relatórios "sem fantasia", como ele definiu.

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