O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, citou nesta sexta-feira (4) uma teoria da conspiração popular em sites de extrema direita ao se referir à sua participação em uma conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), na quinta-feira (3), sobre a pandemia de coronavírus, informou o jornal O Globo.
O chanceler citou em uma rede social o "Grande Recomeço" ("Great Reset", em inglês), uma teoria conspiratória, sem comprovação, que alega que a pandemia originou-se de um complô de elites com o objetivo de impor controle econômico e social às massas.
"Aqueles que não gostam da liberdade sempre tentam se beneficiar dos momentos de crise para pregar o cerceamento da liberdade. Não caiamos nessa armadilha. O controle social totalitário não é o remédio para nenhuma crise. Não façamos da democracia e da liberdade mais uma vítima da COVID-19", afirmou o ministro após sua participação onde não usou a expressão presente na rede social.
A teoria do "Grande Recomeço" ganhou força no final de maio quando o príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, e Klaus Schwab, presidente-executivo do Fórum Econômico Mundial, anunciaram planos para reunir líderes mundiais e discutir as mudanças climáticas e a reconstrução de economias prejudicadas pela pandemia.
A reunião foi chamada de "Grande Recomeço", dando início a uma onda de rumores sobre um grupo de elite que manipularia a economia e a sociedade mundiais, atuando para abolir liberdades individuais e instaurar um regime totalitário.
Em meados de novembro, uma declaração do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, também usando a expressão "Grande Recomeço" em uma reunião das Nações Unidas em setembro, reforçou a reação de extremistas.
Pouco depois, dois comentaristas de extrema direita na Internet, conhecidos por difundir desinformação, começaram a usar a expressão.
Paul Joseph Watson, um ex-colaborador do site de teorias da conspiração Infowars, e Steven Crowder, que afirmou que o número de mortes por coronavírus é inflado, estavam entre os propagadores da tese.
Na videoconferência da ONU, Araújo também citou planos para deslanchar uma "agenda" que subtrairia poder dos Estados nacionais. Araújo não especificou quem busca adotar esta agenda, nem como.
"A COVID-19 não pode servir como pretexto para avançar agendas que extrapolam a estrutura constitucional das Nações Unidas. O Brasil reafirma a responsabilidade primária dos governos de adotar e implementar respostas à COVID-19 específicas aos contextos nacionais. Não existe uma solução única para todos. Não devemos transferir nenhuma responsabilidade do nível nacional para o internacional", falou o chanceler.
Duas declarações de Araújo chamaram a atenção em seu discurso.
A primeira, quando informou que os institutos Biomanguinhos/Fiocruz e Butantan podem, juntos, produzir entre 600 e 800 milhões de doses de vacinas contra a COVID-19 até junho de 2021.
Mas a própria Fiocruz informou em agosto que faria 100 milhões delas. E o governo de São Paulo, a quem o Instituto Butantan se reporta, disse em novembro que o órgão poderia produzir 130 milhões de doses por ano.
A seguir, Araújo também mencionou que a Fiocruz tem um acordo com a Universidade de Oxford, no Reino Unido e com a farmacêutica anglo-sueca Astrazeneca para a produção de vacinas, mas omitiu o acordo entre o Butantan e o laboratório chinês SinoVac para a produção da Coronavac.