Antidepressivo que entra na água torna peixes guppy 'zumbis' sem personalidade, revela estudo

A droga antidepressiva fluoxetina, que chega à água através dos encanamentos, poderia apagar completamente a personalidade dos peixes, de acordo com novo estudo feito na Austrália.
Sputnik

Cerca de 250 milhões de prescrições de antidepressivos são registradas só nos Estados Unidos. Vestígios do medicamento vazam para a água habitualmente quando as pessoas vão ao banheiro, uma vez que as estações de tratamento de esgoto normalmente não os filtram.

Guppies expostos a níveis de fluoxetina encontrados em vias aquáticas perto de estações de tratamento de esgoto exibiram "uma enorme queda" na variabilidade e em todos foram observadas características comportamentais semelhantes, segundo o estudo publicado na revista Proceedings of the Royal Society B.

"Para que as populações de peixes prosperem em face a mudanças ambientais, os membros de um grupo precisam se comportar diferentemente uns dos outros", apontam os especialistas. "Se o peixe toma uma decisão incorreta e morre, alguns outros vão sobreviver por tomarem ações diferentes", continuam.

Para seu estudo, Giovanni Polverino, ecólogo comportamental da Universidade da Austrália Ocidental em Perth, capturou 3.600 guppies. A equipe do cientista dividiu todos os peixes em três grupos: um foi deixado sem nenhum procedimento, o segundo foi exposto a níveis de fluoxetina semelhantes aos encontrados na vida selvagem e o terceiro recebeu uma dose semelhante à encontrada perto das estações de tratamento de esgoto.

Normalmente, os guppies têm personalidades complexas e mostram muita variedade – em agressividade, ansiedade e até mesmo em seus níveis de bravura e autocontrole. No entanto, em peixes tratados com altos níveis de fluoxetina se observou pouca diferenciação em seus comportamentos.

Eles agiam como zumbis que "já não têm sua individualidade", disse o especialista à revista Science.

O fato mais desagradável é que esse tipo de comportamento pode levar à morte: os peixes, tal como os seres humanos, aprendem pelo exemplo dos outros – se um dá um passo errado e morre, outros peixes tentam uma táctica diferente e sobrevivem.

"Infelizmente, descobrimos que esta diversidade comportamental é erradicada nas populações de peixes expostas à fluoxetina, e [isso] pode colocar grandes grupos de peixes em maior risco de perecer em um mundo em mudança e cada vez mais poluído", concluiu o cientista.

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