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Brasil e Argentina derrubam barreiras comerciais: ideologia e negócios não se misturam, diz analista

A derrubada de 31 barreiras comerciais entre Brasil e Argentina é uma prova de que, cada vez mais, governos nacionais vão passar por cima de suas ideologias em prol de ampliar as negociações.
Sputnik

Esta é a opinião de José Luiz Tejon, doutor em educação, especialista em agronegócio e coordenador de MBA dos cursos de Agrobusiness da FECAP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado). Este é um movimento que acontece em escala global. No futuro, as economias nacionais dificilmente deixarão de fazer negócio com países com os quais não compartilham a mesma ideologia, segundo Tejon.

"As relações multilaterais vão formando um conjunto dinâmico de um mundo novo e vão superando, passando por cima de divergências e outras coisas antigas, como usar o comércio como elemento de guerra, como elemento militar. São coisas do passado que não vão mais vingar no futuro" analisa Tejon, em entrevista à Sputnik Brasil nesta quarta-feira (10).

A derrubada das barreiras comerciais foi assinada nesta terça-feira (9) pelos ministros da Agricultura de Brasil (Tereza Cristina) e Argentina (Luis Basterra). Os entraves impactavam o comércio de aproximadamente 50 produtos, como ovos, miúdos de bovino congelados e sementes de chia. Quatro mercadorias ainda devem ter as barreiras derrubadas nos próximos meses.

"O acordo diz respeito a insumos, fundamentalmente, e vai atuar de maneira muito positiva no custo e na disponibilidade de insumos que geram seus derivados agroindustriais. É um início de um acordo de base", avalia Tejon.

O acordo entre os dois países acontece apesar da divergência política entre os governos de Brasil e Argentina. Jair Bolsonaro chegou a declarar torcida para a reeleição de Maurício Macri, que perdeu a disputa para Alberto Fernández. O atual presidente da Argentina, por sua vez, não esconde seu apreço pelo ex-presidente Lula – inclusive, celebrou a anulação das condenações do petista.

Brasil e Argentina derrubam barreiras comerciais: ideologia e negócios não se misturam, diz analista

Para Tejon, esta atitude do governo Bolsonaro mostra "o prenúncio do que pode ser um belo movimento brasileiro" de deixar ideologias à parte na hora de fechar acordos comerciais. Segundo o analista, esta é uma estratégia "inevitável": caso contrário, ele destaca, o Brasil não teria a China como maior cliente comercial.

Por isso, Tejon avalia o acordo alcançado por Tereza Cristina como "o início de uma inteligência relacional e comercial de cooperação" do governo Bolsonaro. O especialista prevê, inclusive, o surgimento de mais integrações como esta no Mercosul.

"Nos demais países do Mercosul sem dúvida alguma, independente de afetos e desafetos entre seus presidentes, o que nós vamos ver é cada vez mais acordos comerciais que passam por cima de facções ideológicas, porque as facções ideológicas já morreram", afirma Tejon.

Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Argentina, Alberto Fernández, terão um encontro bilateral em Buenos Aires no dia 26 de março. Em 30 de novembro, os líderes tiveram sua primeira reunião bilateral, realizada por videoconferência.

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