O presidente Jair Bolsonaro realizou nesta segunda-feira (29) uma reforma ministerial com seis substituições no primeiro escalão do governo. As trocas envolveram os ministérios da Casa Civil, Justiça e Segurança Pública, Defesa, Secretaria de Governo, Relações Exteriores e Advocacia-Geral da União (AGU).
Em entrevista à Sputnik Brasil, a professora Ariane Roder, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse enxergar que as mudanças ministeriais promovidas por Bolsonaro procuram aproximar o Palácio do Planalto do Congresso Nacional.
"Foi uma sinalização por parte do presidente da República para agradar a sua base no Congresso Nacional, conhecida como centrão. Esses partidos vem pressionando Bolsonaro para a troca de alguns ministérios, sobretudo o das Relações Exteriores", afirmou.
O ex-chanceler, Ernesto Araújo, divulgou uma carta para se defender de críticas após sua queda. No texto, Araújo afirma que ele teria sido alvo de uma "narrativa falsa e hipócrita, a serviços de interesses escusos nacionais e estrangeiros", segundo a qual sua atuação "prejudicaria a obtenção de vacinas".
Ariane Roder disse que Jair Bolsonaro procurou agradar especialmente o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
"Como a gente sabe, para iniciar um processo de impeachment depende-se da Câmara dos Deputados. Já há vários pedidos de impeachment na Câmara dos Deputados e bastaria uma sinalização do presidente da Casa para começar um processo dessa natureza", comentou.
Apesar da ampla reforma ministerial promovida pelo presidente, a professora da UFRJ não acredita que ela represente uma mudança nos rumos da política do governo federal.
"Não entendo que ela sinalize uma mudança de atitude ou de posicionamento em relação a diversos temas, como a própria política externa brasileira. Não acho que é uma sinalização de mudança de postura, mas sim, uma sinalização para o Congresso Nacional de diminuição da tensão entre os dois Poderes", disse.
'Troca no comando da Defesa pode levar à demissão de militares'
Umas das trocas que mais chamou a atenção foi a saída de Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa. Para o seu lugar, o presidente Jair Bolsonaro nomeou o general Braga Netto, que estava na Casa Civil.
Segundo Ariane Roder, a troca na Defesa difere das trocas nas outras pastas. Para a professora da UFRJ, a substituição se deu pelo fato de Fernando Azevedo e Silva não compactuar "100% com o presidente Jair Bolsonaro".
"A troca vem sinalizar que ele quer pessoas mais alinhadas ao seu governo. Obviamente que isso tem impacto nas próprias Forças Armadas, há uma possibilidade de outros militares que estão no governo, pedirem demissão. Isso pode enfraquecer a própria base de apoio dos militares", completou.
Nesta terça-feira (30), um dia depois da troca no Ministério da Defesa, a pasta anunciou que os comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica serão substituídos.