A Sétima Frota da Marinha dos EUA desafiou publicamente a reivindicação marítima da Índia no mar Arábico, enviando o destróier de mísseis guiados USS John Paul Jones (DDG 53) para dentro da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) da Índia na última quarta-feira (7). A Marinha dos Estados Unidos alega que a intenção do movimento foi de afirmar direitos e liberdades de navegação sem solicitar o consentimento prévio da Índia.
A tentativa da Marinha dos EUA de reivindicar os direitos de navegação a aproximadamente 130 milhas náuticas a oeste das ilhas Lakshadweep, sem solicitar o consentimento prévio de Nova Deli, atraiu reações fortes dos principais estrategistas da Índia.
Brahma Chellaney, pensador estratégico, autor e comentarista, destacou a diferença entre conduzir operações de "liberdade de navegação" dos EUA em águas disputadas e fazer isso nas águas de uma nação parceira sem aviso prévio.
Nada na UNCLOS (que os EUA nem mesmo ratificaram) permite atividades militares em ZEE de outras nações. Uma coisa é os EUA conduzirem operações de "liberdade de navegação" em águas disputadas, como no mar do Sul da China, outra coisa é fazê-lo na ZEE de uma nação parceira sem seu consentimento.
O comunicado divulgado pela Sétima Frota da Marinha dos EUA diz que "operações de liberdade de navegação não são sobre um país".
"Ou isso é um grande mal-entendido ou uma nova administração dos EUA quer enviar uma mensagem muito desagradável", escreveu Tenzing Lamsang, editor do The Bhutanese, em sua conta no Twitter.
À luz disso, o ex-ministro indiano e líder do Partido Bharatiya Janata (BJP), Subramanian Swamy, disse sarcasticamente: "Uau! Grande conquista do governo de Modi: os EUA estão descartando nossa reivindicação de nossa área marítima. Veja a linguagem americana. Isso significa que S-400 estão vindo para a Índia".
Apesar dos avisos e ameaças de sanções dos EUA a Nova Deli em várias ocasiões, o governo de Narendra Modi decidiu prosseguir com um acordo de US$ 5,43 bilhões (mais de R$ 30 bilhões) que consiste na compra de sistemas de defesa antiaérea S-400 da Rússia. O primeiro lote de mísseis deve chegar à Índia até o final deste ano.
EUA devem 'subscrever a ordem baseada em regras que defendem'
Kanwal Sibal, um ex-secretário das Relações Exteriores da Índia, disse que os EUA deveriam obedecer à ordem baseada em regras que defendem.
O ex-chefe da Marinha indiana, Arun Prakash, sublinhou que, embora a Índia tenha ratificado a Lei dos Mares da ONU de 1995, os EUA ainda não fizeram o mesmo. Prakash desafiou os EUA a revelarem as verdadeiras intenções por trás da ação em um post em sua conta no Twitter.
Há ironia aqui. Enquanto a Índia ratificou a Lei dos Mares da ONU em 1995, os Estados Unidos ainda não o fizeram. Para a 7ª Frota realizar missões de liberdade de navegação na ZEE indiana, em violação de nossa legislação doméstica, é ruim o suficiente. Mas divulgar isso? Marinha dos EUA, por favor, ligue o botão de identificação amigo-inimigo!
O ex-oficial da Marinha Abhijit Singh se posicionou, na sexta-feira (9), no Twitter, afirmando que as operações de liberdade de navegação perto das ilhas Andaman, mais "estratégicas", teriam sido muito mais polêmicas. Os principais pensadores acharam a linguagem usada pela Sétima Frota para se referir a um parceiro da Quad como estranha, pois afirma que conduzia uma operação de liberdade de navegação "desafiando as excessivas reivindicações marítimas da Índia".
O almirante aposentado Arun Prakash, ex-chefe da Marinha indiana, constata que tais operações norte-americanas no mar do Sul da China têm por objetivo transmitir a Pequim a mensagem de que a suposta ZEE em torno das ilhas artificiais seja uma "reivindicação marítima excessiva" e questiona qual seria, portanto, a mensagem dos EUA à Índia nesta situação.