"Não podemos nos esquecer da cultura de coexistência entre turcos e armênios, que prosperou durante séculos e serviu de modelo para a humanidade. Eu honro a memória da população armênia do Império Otomano que pereceu durante as circunstâncias difíceis da Primeira Guerra Mundial e estendo minhas condolências aos seus descendentes", assinalou o presidente turco em comunicado.
Além disso, Erdogan alegou que muitas tentativas foram feitas para usar os massacres de 1915 para pressionar o seu governo. O líder turco acrescentou que esses esforços não têm uso para nenhuma das duas nações e instou a Armênia a restaurar os laços com a Turquia.
"Após a solução da crise em Nagorno-Karabakh, dissemos que estávamos determinados a desenvolver nossos laços com a Armênia. Hoje [24], eu reafirmo essa determinação", disse Erdogan.
O presidente dos EUA, Joe Biden, reconheceu neste sábado (24), como um ato de genocídio, a perseguição cometida pelos turco-otomanos contra a população armênia no início do século XX, que resultou no assassinato de aproximadamente 1,5 milhão de armênios. Ancara, por sua vez, protestou e pediu que Biden revertesse essa designação. A data de hoje (24) marca o 106º aniversário do genocídio armênio.
Pouco depois de Biden emitir seu comunicado, o chanceler turco Mevlut Cavusoglu publicou uma declaração nas redes sociais classificando o ocorrido como "oportunismo político".
"O oportunismo político é a maior traição para a paz e a justiça. Nós rejeitamos completamente esse comunicado baseado somente em populismo", escreveu Cavusoglu no Twitter.
Azerbaijão classifica atitude de Biden de 'inoportuna'
O Ministério das Relações Exteriores do Azerbaijão também se pronunciou neste sábado (24) em resposta ao reconhecimento de Biden do genocídio armênio, classificando a atitude do presidente norte-americano de inoportuna.
"É inoportuno que o comunicado do presidente dos EUA, Joe Biden, no Dia da Memória dos Armênios, distorça os fatos históricos sobre os eventos de 1915. Aqueles que politizam o chamado 'genocídio armênio' silenciam a respeito do massacre de mais de 500 mil pessoas cometido pelos grupos armados armênios na época, assim como os massacres cometidos pelos Dashnaks armênios [Federação Revolucionária Armênia, um partido político de orientação socialista] em Baku e em outras regiões do Azerbaijão em março de 1918", afirmou o ministério azeri em nota.
Além disso, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev, manteve hoje (24) uma conversa por telefone com Erdogan para discutir a designação feita por Biden e uma eventual resposta conjunta dos dois países. Pouco depois, o presidente azeri afirmou em uma nota que a designação de Biden é um "erro histórico" e "inaceitável".
Turcos e azeris são muito próximos etnicamente e ambos eram parte do antigo Império Otomano. Após a dissolução da União Soviética e a restauração da independência do Azerbaijão no início da década de 1990, a Turquia foi o primeiro país a reconhecer a soberania azeri, e mantém relações muito próximas, tanto no âmbito econômico como militar, que foram classificadas pelo ex-presidente azeri Heidar Aliev como as relações de "uma nação com dois Estados".
Recentemente, no final de 2020, a Turquia apoiou o Azerbaijão no conflito em Nagorno-Karabakh, uma região montanhosa habitada majoritariamente por armênios étnicos, próxima da fronteira entre Armênia e Azerbaijão, cujos enfrentamentos estavam congelados desde 1994. O conflito terminou com um acordo mediado pela Rússia, em novembro de 2020, no qual os azeris conseguiram recuperar boa parte do território que os armênios haviam conquistado na década 1990.