Cientistas desbravam caverna islandesa de lendas vikings sobre o fim do mundo

No navio feito dentro da caverna foram encontrados restos de auripigmento turco e contas iraquianas provavelmente ofertados aos deuses. Pesquisadores acreditam que aconteciam sacrifícios animais no monumento.
Sputnik

Surtshellir é uma caverna de lava de mais de 1,5 quilômetro de extensão localizada na Islândia e documentada pela primeira vez em 1750. Segundo cientistas, a caverna teria sido palco de inúmeros atos rituais realizados pelos vikings na esperança de evitar o fim do mundo, após terem testemunhado a grande erupção vulcânica que a originou.

De acordo com os pesquisadores, o vulcão entrou em erupção há quase 1.100 anos, logo após a colonização da Islândia pelos vikings. "O impacto dessa erupção deve ter sido perturbador e representou desafios existenciais para os novos colonos na Islândia", afirmam os autores do estudo publicado no Journal of Archaeological Science.

​Nova publicação sobre a caverna Surtshellir do vice-diretor Kevin Smith: "[...] este artigo representa o primeiro de uma série de publicações sobre a caverna e suas percepções únicas sobre ritual, religião e respostas da Era Viking ao vulcanismo catastrófico."

Presume-se que, logo após o resfriamento da lava, os vikings entraram na caverna e construíram uma estrutura em forma de navio feita de pedras, onde queimaram ossos de animais domésticos. Os pesquisadores acreditam que esses foram sacrifícios para reprimir a fúria de Surtr, que, de acordo com a mitologia nórdica, era o gigante que mataria todos os deuses e "envolveria o mundo em chamas" no evento apocalíptico conhecido como Ragnarok.

Por outro lado, perto da estrutura foram encontrados restos de auripigmento – mineral do leste da Turquia usado para decorar objetos, mas extremamente raro nessas áreas do norte – e três contas originais do Iraque. Os pesquisadores sugerem que esses produtos podem ter chegado à Islândia por meio de rotas comerciais entre os vikings e o Oriente Médio, e que foram oferecidos para apaziguar Surtr na caverna, ou para fortalecer Freyr, um deus viking da fertilidade que, segundo a mitologia, luta contra Surtr durante o Ragnarok.

O estudo destaca ainda que, apesar de a Islândia ter se convertido ao cristianismo há cerca de mil anos e as pessoas não depositarem mais objetos na caverna, ela nunca deixou de estar associada ao fim do mundo, pois agora a tradição islandesa considera que a caverna é "o lugar onde Satanás surgirá no Dia do Juízo Final", em uma adaptação cristã.

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