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Dívida pública faz real despencar: 'Desvalorização está muito intensa', avalia economista

No dia 1º de janeiro de 2020, o dólar norte-americano fechou a bolsa a R$ 4,28. Hoje, um ano e quatro meses depois, um dólar equivale a R$ 5,44.
Sputnik

Este é um ritmo "muito intenso" de desvalorização da moeda e reflete um cenário que parece não ter solução a curto prazo. É o que afirma Marcel Caparoz, economista e consultor da RC Consultores Associados, em entrevista à Sputnik Brasil nesta segunda-feira (3).

"A desvalorização do real está muito intensa, talvez mais intensa do que o que os fundamentos econômicos sugerem como uma taxa de equilíbrio para a moeda", diz Caparoz.

Caparoz explica que há fatores internos e externos para a desvalorização de uma moeda nacional. Os externos – como o ambiente do mercado de negócios, o Banco Central dos EUA (que influencia no dólar) e tensões políticas internacionais – variam independente da atuação do governo brasileiro. É nos fatores internos, no entanto, que o Brasil não tem se saído bem.

Segundo o economista, o principal fator de desequilíbrio do real é a política fiscal brasileira. As contas do governo registraram em 2020 déficit primário recorde de R$ 743,087 bilhões – um valor que representa 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Para efeito de comparação, o déficit de 2020 é 666,5% maior que o registrado em 2019, que foi de R$ 95,065 bilhões.

"Quando fazemos projeções do que serão os próximos anos, se vai ocorrer algum tipo de ajuste, alguma reforma estrutural para conter esta sangria das contas públicas, nós não enxergamos um cenário positivo", avalia o economista.
Dívida pública faz real despencar: 'Desvalorização está muito intensa', avalia economista

Reformas e aumento de juros podem ajudar a amenizar a situação

O desequilíbrio nas contas públicas pode ser explicado pela pandemia. Ao mesmo tempo em que demandou muitas despesas públicas, o surto de COVID-19 também reduziu a arrecadação tributária, em decorrência da crise. Como consequência, as contas públicas, que já se encontravam em fragilidade, acabaram ainda mais enfraquecidas.

Para se recuperar perante investidores, o Brasil precisa passar a ideia de que tem uma economia sustentável, que tem um governo responsável e que tem capacidade para se recuperar frente ao dólar, mesmo que em ritmo lento. Para isso, segundo Caparoz, é preciso que o Congresso aprove reformas.

"O importante é que o governo tenha capacidade de juntar forças e passar reformas, principalmente a Tributária e a Administrativa, para passar um sinal positivo para o mercado e de confiança para os agentes econômicos", diz Caparoz.
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Outra estratégia – que já foi adotada – é a elevação, ainda que discreta, da taxa de juros. Em março, o Banco Central anunciou o aumento da taxa Selic de 2% para 2,75% ao ano. A medida, ainda que tenha como objetivo principal frear a inflação, também pode acabar fazendo o real se valorizar.

"Quando aumentamos a taxa de juros, naturalmente ela acaba atraindo mais atenção de outros agentes, que estão interessados em financiar a dívida do governo. […] A dívida pública brasileira passa a ser mais atrativa. Tende a atrair mais recursos, inclusive recursos externos, e acaba gerando um fluxo maior de mercado, contribuindo para a valorização do real", afirma o especialista.

Vale notar que o ano de 2020 foi o sétimo consecutivo em que as contas públicas do Brasil registraram déficit. O último ano em que o Brasil teve um superávit primário foi em 2013, com as arrecadações superando os gastos em R$ 72,1 bilhões.

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