Think tank insta Washington a pôr fim ao 'erro estratégico' de frustrar ambições de defesa europeia

Na opinião do Centro para o Progresso Americano, dos EUA, Washington tem desde os anos 1990 exercido um "veto" contra uma política de defesa integrada da União Europeia.
Sputnik

O think tank Centro para o Progresso Americano publicou um relatório na terça-feira (1º), antes da primeira viagem ao exterior de Joe Biden como presidente dos EUA, para participar das cúpulas do G7 e da OTAN, convida o chefe do Executivo a rever a política de seus antecessores, que se opuseram à integração da defesa da União Europeia (UE) por décadas.

Os especialistas pedem explicitamente a Washington que deixe de frustrar as tentativas dos aliados europeus de gastar mais com suas próprias forças armadas, mantendo-as dentro da meta de gastos da OTAN de 2% do PIB.

"A dependência da Europa dos Estados Unidos para sua segurança significa que os EUA possuem um veto de fato sobre a direção da defesa europeia", diz o relatório do Centro para o Progresso Americano, escrito por Max Bergmann, James Lamond e Siena Cicarelli.

'Erro estratégico'

Os autores argumentam que, se a UE fosse autorizada a prosseguir com suas próprias iniciativas de defesa, tanto economizaria dinheiro quanto melhoraria a capacidade de combate.

O relatório, que afirma que os EUA impedem a UE desde os anos 1990 de realizar suas "ambições de defesa", chama a situação atual de "salgalhada" de forças nacionais, que a OTAN é forçada a coordenar.

"Esta abordagem política tem sido um grande erro estratégico, um erro que enfraqueceu militarmente a OTAN, prejudicou a aliança transatlântica e contribuiu para o declínio relativo da influência global da Europa", diz.

Os autores do novo relatório chamam atenção para o estado do equipamento militar da Europa, que está em "chocante degradação" e "não é suficientemente bom", culpando o bloco europeu, mas também os EUA.

Think tank insta Washington a pôr fim ao 'erro estratégico' de frustrar ambições de defesa europeia

"Washington tem desempenhado um papel crítico, se bem que menosprezado, na precipitação deste fracasso", afirmam os especialistas, sublinhando a contínua pressão para aumentar as despesas da OTAN, algo que o ex-presidente norte-americano Donald Trump (2017-2021) fez de forma mais agressiva do que seus antecessores, como central para o resultado "deplorável".

'Parceiro igual na aliança'

Abordando a questão da "duplicação" das capacidades da OTAN, o think tank sugere que Bruxelas deve desenvolver suas próprias capacidades essenciais, impulsionando seu poder militar global e aspirando a se tornar um "parceiro igual na aliança".

Os oponentes da integração militar da UE há muito tempo têm argumentado contra qualquer "duplicação" das capacidades da OTAN, particularmente na área de "comando e controle", argumentando que isso poderia sugar recursos da aliança.

O general aposentado Philip Breedlove, ex-comandante supremo aliado da OTAN para a Europa, há muito que apoia esta posição.

"Se essas nações, que também estão na OTAN, querem gastar em sua defesa, eu vejo isso como uma coisa boa, porque qualquer coisa que beneficie a UE também beneficiará a OTAN", disse, citado na quarta-feira (2) pelo jornal Politico.

Ideia de exército pan-europeu

Apesar da posição assumida pelos presidentes dos EUA ao longo dos anos, líderes da UE, incluindo Emmanuel Macron, presidente da França, e Angela Merkel, chanceler da Alemanha, há algum tempo que desejam criar um exército da UE.

Em novembro de 2018, Macron apelou a um "exército europeu", para proteger a Europa da "China, Rússia e até dos Estados Unidos da América", como resposta à retirada dos EUA do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, assinado em 1987 com a URSS.

Embora a ideia tenha sido classificada por alguns políticos da UE como "irrealista e indesejável", David Sassoli, presidente do Parlamento Europeu, declarou em 2020 na Rádio 24 da Itália:

"Não é um dado adquirido que no futuro próximo não teremos algo que se assemelhe a um exército europeu, porque as questões de segurança de hoje forçam cada vez mais Estados-membros a trabalharem juntos".

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