O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou na quinta-feira (17) que é possível estabelecer ações contra o desperdício de alimentos reaproveitando comida que seria perdida para apoiar famílias em insegurança alimentar.
"O prato de um [cidadão de] classe média europeu, que já enfrentou duas guerras mundiais, são pratos relativamente pequenos. E […] fazemos almoços onde às vezes há uma sobra enorme. Isso vai até o final, que é a refeição da classe média alta, até lá há excessos […]. Toda aquela alimentação que não for utilizada durante aquele dia no restaurante, aquilo dá para alimentar pessoas fragilizadas, mendigos, desamparados. É muito melhor do que deixar estragar essa comida toda", disse Guedes durante o Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento, promovido pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Em conversa com a Sputnik Brasil, o economista Mauro Rochlin, professor dos cursos de MBA da FGV, explica porque essa ideia do ministro é inviável.
Medida inócua
Durante o evento, o ministro desenvolveu um pouco mais a proposta que tem em mente.
"A principal ideia é conectar a solução do problema do desperdício com o ataque direto à fome que é justamente objetivo das nossas políticas sociais. Precisamos facilitar a conexão entre as políticas sociais de um lado e o desperdício que ocorre do outro lado", disse Guedes.
Mauro Rochlin explica que os bolsões de pobreza não se encontram nos principais centros urbanos e a distribuição desses alimentos seria inviável, o que torna a medida inócua.
"Não existem redes que permitam, de maneira sistemática e permanente, que essa sobra de alimentos possa ser canalizada das famílias de classe média para aquelas famílias de menor poder aquisitivo. Eu acho que a medida seria absolutamente inviável."
O professor da FGV acrescenta que não há logística capaz de viabilizar esse projeto, uma vez que as redes de distribuição não seriam possíveis de serem implementadas.
Proposta mais eficiente
Mauro Rochlin acredita que a medida se trata de "mera retórica do ministro", por isso crê que rapidamente a proposta será abandonada. O professor da FGV explica que o grande problema do Brasil não é a distribuição de alimentos.
"A questão não se refere exatamente à distribuição de alimentos, mas muito mais à distribuição de renda. Então, não trata de se considerar que o país é um grande produtor de alimentos e, portanto, todos deveriam estar bem alimentados. Se trata de se pensar essa questão dentro de outro enquadramento. O enquadramento correto seria se pensar a respeito de melhor distribuição de renda", explica.
Dessa forma, o Mauro Rochlin argumenta que há outras medidas muito mais eficazes do que a proposta do ministro da Economia.
"Acredito que programas sociais como Bolsa Família podem ser muito mais eficientes do que a distribuição de alimentos diretamente […]. Esses programas sociais, como Bolsa Família e outros do tipo, são muito mais eficientes do que se pensar na distribuição de alimentos que sobram na mesa da classe média", garante o economista da FGV.