Nesta terça-feira (14), em entrevista para Folha de São Paulo, o ministro-conselheiro e porta-voz da Embaixada da China em Brasília, Qu Yuhui, disse que Pequim espera "estabilidade" na relação com o Brasil e ressaltou os investimentos e empregos gerados pelo gigante asiático no país.
"Como amigos do Brasil, esperamos que o país mantenha a estabilidade e o contínuo desenvolvimento [...]. Vale salientar que a China é um dos principais investidores no país, com um volume de aportes em rápida ascensão de US$ 80 bilhões [R$ 418 bilhões] e 40 mil empregos diretos", afirmou Qu.
Entretanto, em relação ao panorama atual político brasileiro, o porta-voz disse que "não cabe a nós comentar sobre os assuntos internos do Brasil".
A mídia relata que decidiu fazer a entrevista pela relação ambígua que o governo do presidente, Jair Bolsonaro, tem com o país asiático.
O presidente da China, Xi Jinping, à esquerda, fala durante declaração conjunta com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante reunião bilateral paralela à 11ª edição da Cúpula do BRICS, no Palácio do Itamaraty, em Brasília, no Brasil, no dia 13 de novembro de 2019
© AP Photo / Eraldo Peres
Ao mesmo tempo que ataca a China e profere que sua vacina (CoronaVac) não tem comprovação científica, diz que Pequim é um parceiro importante na luta do Brasil contra a pandemia, de acordo com as palavras do presidente na última conferência do BRICS, conforme noticiado.
Indagado se seria possível crer em tanta moderação, Qu respondeu:
"A afirmação sobre as relações sino-brasileiras feita pelo presidente Bolsonaro foi uma avaliação objetiva sobre as relações amistosas entre nossos dois países e a parceria bilateral de alto nível no contexto da pandemia. [...] Nesta cúpula do BRICS, o presidente Xi Jinping apresentou cinco iniciativas para promover o crescimento de alta qualidade da cooperação pragmática dentro do bloco. Esperamos trabalhar com o lado brasileiro para implementar os importantes consensos alcançados", contemporizou.
Em maio, Bolsonaro chegou a citar (sem nomear diretamente) a China como interessada em uma "guerra biológica" com o vírus da COVID-19. Qu comentou as sugestões norte-americanas com o mesmo conteúdo.
"Trata-se de uma acusação leviana e de má-fé. [...] Os EUA são, de fato, o país que mais espalhou o vírus pelo mundo e que apresenta mais suspeitas no rastreio da origem do vírus. Provas científicas indicam que as infecções pelo novo coronavírus em várias cidades norte-americanas aconteceram muito antes dos primeiros casos registrados no país", disse.
Entretanto, ao comentar sobre afirmações feitas durante a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês) por Donald Trump Jr, filho do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, o porta-voz foi bem mais incisivo.
"São fantasias absurdas, totalmente descoladas da realidade, às quais manifestamos veemente objeção [...]. Instamos as personalidades norte-americanas a cessar suas manobras políticas para distorcer os fatos e fabricar mentiras contra a China", declarou Qu.
Donald Trump Jr., filho do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante Congresso Conservador organizado por Eduardo Bolsonaro, 4 de setembro de 2021
© Folhapress / Wallace Martins/Futura Press
Na conferência, Trump Jr. acusou Pequim de buscar influenciar o resultado da eleição presidencial brasileira de 2022, para a instalação de um "governo socialista o qual possam manipular" — o eufemismo para PT, no caso, segundo a mídia.
Sobre a questão do 5G no Brasil, o leilão das bandas da tecnologia é marcado por diversos vaivéns, mas por ora a Huawei só está proibida de associar-se a operadoras na chamada rede privativa do governo, que trafega dados sensíveis à segurança nacional. O processo continua travado.
Além disso, em visita ao Brasil no princípio de agosto, o Conselheiro de Segurança dos EUA, Jake Sullivan, fez pressão no governo brasileiro dizendo que o país poderia se tornar membro da OTAN se não adotar tecnologia 5G chinesa, conforme noticiado.
Para Qu, o edital brasileiro "oferece condições relativamente equitativas de concorrência". "Esperamos que o governo brasileiro continue a proporcionar às empresas chinesas, aí incluída a Huawei, um ambiente de negócios imparcial, aberto, transparente e livre de discriminação", afirmou.