A oficialização da aliança trilateral levou à dramática retirada dos embaixadores franceses tanto do Reino Unido como dos EUA.
Por que não contaram nada para Paris?
Os EUA e a Austrália tomaram medidas extraordinárias com o objetivo de "manter Paris no escuro" quanto às negociações para fornecer a Camberra submarinos de propulsão nuclear projetados nos EUA e Reino Unido, ao invés dos submarinos convencionais fabricados na França, informou o jornal The New York Times, citando entidades familiarizadas com o assunto.
Mesmo sendo um dos aliados mais antigos dos EUA, a França não teria sabido o que estava em jogo até o último momento, com funcionários australianos esperando até 30 de agosto deste ano para revelar que o programa de submarinos francês já não era mais de seu interesse.
O fato de que a Austrália adquirirá submarinos movidos a energia nuclear tem suscitado preocupações não apenas por parte de Pequim, mas também da Nova Zelândia, com Wellington declarando rapidamente que proibirá os submarinos nucleares em suas águas. Contudo, a reação mais negativa veio de Paris, com políticos franceses chamando a aliança AUKUS de "facada nas costas" e de "traição" por parte de seus antigos aliados.
No entanto, de acordo com o The New York Times, a reação de Paris não causou grande impacto sobre a administração Biden, com o presidente norte-americano, supostamente, explicando que esta era uma situação em que um aliado estratégico representava maior importância do que outro.
Os altos funcionários australianos também não se preocuparam em notificar Paris sobre seus planos de cancelar o acordo de submarinos. De acordo com a mídia estadunidense, o que preocupava Camberra era a possibilidade de os submarinos franceses convencionais se tornarem obsoletos antes mesmo de iniciarem seu serviço. Por essa razão, sua substituição por embarcações de última geração movidas a energia nuclear, e fabricadas pelos EUA e pelo Reino Unido, parecia uma alternativa melhor - e o suficiente para não falar sobre seus planos para a França.
Conforme o The New York Times, os oficiais franceses teriam sido informados da situação apenas escassas horas antes do acordo entre os EUA, Reino Unido e Austrália ser oficialmente anunciado.
E agora?
O ministro francês dos Assuntos Europeus, Clement Beaune, declarou mais tarde que não vê como Paris pode seguir confiando em Camberra, enquanto outros políticos franceses apelidaram a aliança AUKUS de "traição" e de "facada nas costas".
Tanto Washington como Camberra lamentaram a retirada de seus embaixadores franceses, mas a Austrália ainda não comentou o assunto, referindo apenas que tem esperança em "se engajar novamente com a França em nossas várias questões de interesse comum, com base em valores compartilhados".
A Casa Branca, por sua vez, disse estar em consultas com seus parceiros franceses, sublinhando que Paris é um de seus "aliados mais antigos" e que as relações com a França são muito valorizadas nos EUA.