Infectar mosquitos que carregam a dengue com uma cepa de bactérias que ocorrem naturalmente pode reduzir drasticamente sua população, informou na segunda-feira (4) o jornal The Guardian.
Para isso, os autores do estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, lançaram durante 20 semanas, desde 2018, em três locais do estado de Queensland, Austrália, três milhões de mosquitos machos infectados com a bactéria Wolbachia. Os mosquitos machos não mordem, ao contrário das fêmeas.
O resultado foi uma queda global de 80% na população de mosquitos, incluindo uma redução de 97% em Mourilyan. Nigel Beebe, cientista da Organização de Pesquisa Científica e Industrial da Comunidade [das Nações] (CSIRO, na sigla em inglês), referiu que a infecção de mosquitos machos Aedes aegypti com a bactéria parecia alterar algum componente de sua biologia reprodutiva. As fêmeas que acasalaram com os machos infectados puseram ovos que nunca eclodiram.
Segundo o pesquisador, não há grande perigo ecológico em conter a população desse inseto.
"Ele só existe em paisagens urbanas. Ele pica preferencialmente os humanos, cerca de 95% das vezes. A paisagem urbana é um ecossistema bastante artificial, portanto remover um mosquito desse ecossistema provavelmente não será uma questão problemática."
Ainda na opinião de Beebe, "há evidências experimentais e evidências de observação de que essas Wolbachia não podem invadir células humanas", no caso de um mosquito infectado com ela picar um humano.
Como constata The Guardian, o número de casos da dengue tem subido oito vezes nas últimas décadas, e as diferentes cepas da bactéria em questão têm sido usadas para reduzir a probabilidade de os mosquitos transmitirem vírus que afetam seres humanos.
A equipe planeja igualmente usar uma técnica similar para suprimir o mosquito tigre asiático, Aedes albopictus, que também dissemina vírus, uma espécie "incrivelmente pestilenta" que se estabeleceu nas Ilhas do Estreito de Torres, Austrália, desde 2004.
"Queremos construir nosso próprio sistema de machos estéreis para que, quando este mosquito chegar ao continente, possamos o expulsar", comentou o membro da CSIRO.