Vladimir Putin, presidente da Rússia, disse em uma reunião sobre energia que ninguém deveria ser colocado em uma posição difícil, apesar das dificuldades nas relações.
"Não há necessidade de colocar ninguém em uma posição difícil, incluindo a Ucrânia, apesar de todas as questões relacionadas às relações russo-ucranianas no momento", apontou.
O presidente russo pediu a Nikolai Shulginov, ministro da Energia, que assumisse o controle do cumprimento das obrigações de fornecimento de gás para a Europa via Ucrânia.
"Eu lhe peço, como ministro da Energia, que assuma o controle pessoal destas questões, e garanta que a Gazprom [empresa estatal de gás natural] cumpra todas as suas obrigações contratuais de trânsito do gás russo através do território da Ucrânia para a Europa", exortou.
Apesar de tudo, o líder russo garantiu que a Gazprom nunca recusou aumentar o fornecimento de gás aos consumidores estrangeiros.
"Nunca houve um único caso na história em que a Gazprom se recusasse a aumentar os fornecimentos a seus consumidores se eles fizessem os pedidos apropriados. Nem um só", disse Putin, e observou que a Alemanha, o maior consumidor de gás russo na Europa, recebeu mais 10,124 bilhões de metros cúbicos de gás nos primeiros nove meses de 2021 em relação ao período homólogo de 2020.
"Isso é 131,8% em relação ao ano passado", explicou ele.
A conclusão da certificação do gasoduto Nord Stream 2 (Corrente do Norte 2) e o aumento no volume de transações de gás na Bolsa Internacional de Mercadorias e Matérias-Primas de São Petersburgo (SPIMEX, na sigla em inglês) esfriarão a situação atual do mercado de gás, previu Aleksandr Novak, vice-primeiro-ministro da Rússia.
No entanto, Putin criticou o comércio de gás no mercado bolsista.
"Em geral, o comércio de gás [...] não é muito eficiente porque acarreta muitos riscos, porque não são relógios, cuecas e gravatas, ou carros, e não é nem mesmo petróleo, que pode ser produzido e armazenado em qualquer lugar, inclusive em petroleiros, esperando por uma determinada situação de mercado. O gás não é comercializado dessa maneira, não pode ser armazenado assim", afirmou o chefe do executivo da Rússia.
Putin observou que mesmo o gás natural liquefeito (GNL) tem que ser produzido, liquefeito, carregado em navios-tanque e regaseificado.
"É um processo complicado, muito caro, não funciona assim. Simplesmente não funciona", comentou Vladimir Putin, falando com Novak.
"Vamos pensar em um possível aumento da oferta no mercado, mas isto deve ser feito com cuidado. Faça as contas com a Gazprom, fale com eles. Eu concordo com você, não precisamos de tal frenesi especulativo, porque, como você sabe, há outros eventos desagradáveis que se seguem a esse tipo de especulação."
Putin advertiu que a Rússia precisa tomar medidas adicionais para garantir que a produção do GNL nos locais de exploração que operam há décadas seja equilibrada, e acrescentou que a Europa está tentando atingir a neutralidade em carbono à custa da Rússia.
Durante a reunião, Boris Kovalchuk, presidente do conselho da Inter RAO, empresa holding de energia, disse ao chefe do executivo russo que "a geração a carvão na Alemanha representa 27% do balanço energético do ano, e 13% na Rússia", e que, "portanto, é estranho lutar pela neutralidade de carbono".
"Você fez a pergunta certa, como se pode lutar pela neutralidade de carbono quando o balanço energético na Europa, neste caso na República Federal da Alemanha, em termos de geração de carvão, é duas vezes maior do que na Rússia. Acontece que isso é possível, e eles estão fazendo isso", sublinhou Putin.
"E eles estão tentando fazer isso, quero dizer os europeus em geral, às custas de outros. Neste caso, eles estão tentando fazê-lo à nossas custa, à custa da Rússia. Espero que nos engajemos em um diálogo apropriado, tendo em mente os interesses de todas as partes no mercado global de energia", sugeriu o presidente da Rússia.