Na Terra, nossos corpos criam e destroem dois milhões de glóbulos vermelhos a cada segundo. Em um novo estudo publicado neste sábado (15) na revista Nature Medicine, uma equipe de cientistas do Instituto de Pesquisa Hospitalar de Ottawa e da Universidade de Ottawa descobriu que os astronautas estavam destruindo 54% mais glóbulos vermelhos durante suas missões de seis meses a bordo da Estação Espacial Internacional, o equivalente a três milhões a cada segundo.
"A anemia espacial foi consistentemente relatada quando os astronautas retornaram à Terra desde as primeiras missões espaciais, mas não sabíamos por quê", disse o professor, médico de reabilitação e pesquisador do Instituto de Pesquisa do Hospital de Ottawa e da Universidade de Ottawa, Guy Trudel.
"Nosso estudo mostra que, ao chegar ao espaço, mais glóbulos vermelhos são destruídos, e isso continua por toda a duração da missão do astronauta." De acordo com a SciNews, antes do novo estudo, pensava-se que a anemia espacial era apenas uma fase de adaptação de curta duração dos fluidos que se deslocavam para a parte superior do corpo do astronauta quando chegavam ao espaço.
Os autores descobriram que a destruição dos glóbulos vermelhos é um efeito primário de estar no espaço, não apenas causado por mudanças de fluidos. Eles foram capazes de demonstrar o fato analisando 14 astronautas durante suas missões espaciais de seis meses. "Felizmente, ter menos glóbulos vermelhos no espaço não é um problema quando seu corpo não tem peso", disse o professor Trudel.
"Mas ao pousar na Terra e potencialmente em outros planetas ou luas, a anemia afetando sua energia, resistência e força pode ameaçar os objetivos da missão."
Segundo o professor, no entanto, os efeitos da anemia só são sentidos quando o astronauta aterriza e precisa lidar com a gravidade novamente.
No estudo, cinco dos 13 astronautas estavam clinicamente anêmicos quando pousaram – um dos 14 astronautas não teve sangue coletado no pouso.
Os pesquisadores viram que a anemia relacionada ao espaço, porém, era reversível, com os níveis de glóbulos vermelhos voltando progressivamente ao normal de três a quatro meses após seu retorno à Terra.
Curiosamente, eles repetiram as mesmas medições um ano depois que os astronautas retornaram à Terra e descobriram que a destruição de glóbulos vermelhos ainda estava 30% acima dos níveis pré-voo.
Os resultados sugerem que mudanças estruturais podem ter acontecido nas estrutura física do astronauta enquanto ele estava no espaço, alterando o controle dos glóbulos vermelhos por até um ano após missões espaciais de longa duração.
"Se pudermos descobrir exatamente o que está causando essa anemia, há potencial para tratá-la ou preveni-la, tanto para astronautas quanto para pacientes aqui na Terra", disse o professor Trudel.