Os legisladores alegam que a CIA oculta do público e do Congresso dos EUA muitos detalhes sobre o programa de espionagem, escreve o The Washington Post.
O senador Ron Wyden, do Oregon, e Martin Heinrich, do Novo México, enviaram uma carta aos principais funcionários da inteligência pedindo mais detalhes a respeito da abrangência do sistema de vigilância de dados.
Os dois senadores, críticos frequentes da CIA, disseram que não podem revelar detalhes sobre que tipo de dados foi objeto de coleta em massa, e pediram apoio para o programa ser desclassificado.
A carta foi enviada em abril de 2021, mas desclassificada somente nesta quinta-feira (10). Wyden e Heinrich disseram que o programa opera "fora da estrutura que o Congresso e o público acreditam que governa essa instituição [CIA]".
Há muito tempo existem preocupações sobre quais informações a comunidade de inteligência coleta internamente. Elas são impulsionadas pelo histórico de violações das liberdades civis dos norte-americanos.
A CIA disse na sexta-feira (11) que o programa destacado pelos senadores (e outro divulgado esta semana) são "repositórios de informações sobre as atividades de governos estrangeiros e cidadãos estrangeiros".
Em um comunicado, a agência disse que os programas foram classificados para impedir que adversários os comprometam.
"No decorrer de qualquer coleta legal, a CIA pode acidentalmente adquirir informações sobre norte-americanos que estão em contato com estrangeiros", disse o comunicado da agência.
O ex-administrador de sistemas Edward Snowden comentou o episódio em suas redes sociais.
Você está prestes a testemunhar um enorme debate político no qual as agências de espionagem e seus apologistas na TV lhe dizem que isso é normal, e é OK, e a CIA não sabe quantos norte-americanos estão no banco de dados, ou mesmo como eles chegaram lá. Mas não está tudo bem.
Espionagem internacional
Tanto Wyden quanto Heinrich são personalidades conhecidas na luta por mais transparência das agências de inteligência nos EUA.
Quase uma década atrás, Wyden perguntou ao então diretor da inteligência dos Estados Unidos, James Clapper, se a NSA coletava "qualquer tipo de dado sobre milhões ou centenas de milhões de norte-americanos". Clapper respondeu: "Não".
Edward Snowden, mais tarde naquele ano, revelou ao mundo que a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) tinha acesso a dados em massa por meio de empresas de Internet dos EUA, além de centenas de milhões de registros de chamadas de provedores de telecomunicações.
Edward Snowden
© AFP 2023 / FREDERICK FLORIN
Essas revelações provocaram controvérsia mundial. Dados coletados por Snowden mostraram que milhões de e-mails e ligações de brasileiros e estrangeiros foram monitorados.
Os dados apontam ainda que a embaixada do Brasil em Washington e a representação na ONU, em Nova York, foram monitoradas.
Outros países da América Latina também, como México, Venezuela, Argentina, Colômbia e Equador. Na Europa, Alemanha, Itália, e França tiveram seus presidentes e chanceleres espionados.