"A amostra para teste de doping de Valieva, coletada em 25 de dezembro de 2021 no campeonato de patinação artística da Rússia em São Petersburgo mostrou a presença da substância proibida trimetazidina. O resultado foi comunicado em 8 de fevereiro por um laboratório de testes antidopagem acreditado em Estocolmo pela WADA [Agência Mundial Antidoping]. Depois disso, a esportista foi suspensa condicionalmente pela Agência Antidoping da Rússia (RUSADA)", lê-se na nota da ITA.
"De acordo com o Código Mundial de Antidoping, Valieva, que tem 15 anos, tem um estatuto de 'pessoa protegida', que é aplicado a pessoas com menos de 16 anos de idade. As informações sobre a abertura de um processo contra um esportista com esse estatuto não são de divulgação obrigatória. No entanto, devido ao fato de que vários meios de comunicação não respeitarem o estatuto da esportista e emitiram notícias baseadas em informações não oficiais, a ITA está ciente da necessidade de publicar oficialmente as informações devido ao elevado interesse público", informa o comunicado.
No entanto, a suspensão de Valieva foi retirada em 9 de fevereiro, e ela está autorizada a competir nas Olimpíadas de Pequim.
"A esportista apelou contra a suspensão condicional, em 9 de fevereiro a RUSADA decidiu remover a suspensão, permitindo que ela continuasse participando das Olimpíadas. A justificativa para esta decisão será comunicada a todas as partes interessadas o mais rapidamente possível", avança comunicado da RUSADA.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) contestará a decisão da RUSADA e o caso será analisado pelo Tribunal Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês). Prevê-se que a decisão seja divulgada antes de 15 de fevereiro.
Kremlin apoia a patinadora russa e sugere esperar pelos resultados oficiais do processo
A patinadora artística russa Kamila Valieva, suspeita de usar doping nos Jogos Olímpicos de Inverno 2022 em Pequim, é fortemente apoiada pelo Kremlin, disse o porta-voz do presidente, Dmitry Peskov.
"Não comentamos e não queremos comentar a situação, aguardamos a conclusão dos procedimentos [...] Apoiamos a nossa Kamila Valieva", disse Peskov.
As autoridades russas estão confiantes de que houve algum mal-entendido e sugerem aguardar pelos resultados do processo.
Há chances para resolução favorável do caso
O advogado esportivo Artyom Patsev disse à Sputnik que na situação em torno do resultado positivo do teste de doping há chances para uma resolução favorável do caso.
"Não se deve esperar a pior das hipóteses, eu vejo plenamente as chances de um resultado favorável, especialmente porque há experiências positivas com trimetazidina em atletas de alto nível [...] Há também exemplos positivos neste caso, tendo em conta a idade da esportista, seu modo de vida, de seus treinadores e assim por diante. É possível encontrar evidências de que ela não tinha onde obter esta substância e não fazia nenhum sentido tomá-la. Eu seria cautelosamente otimista", observou advogado.
Mark Adams, chefe do serviço de imprensa do COI, comentando a situação de Valieva, afirmou que o caso ainda está sendo analisado, salientando que a permissão de retomar a participação não está relacionada com a idade da patinadora.
"Ouvimos muitos rumores, há muito ruído, nós esperamos que haja mais explicações, embora tenhamos o documento básico. COI é 100% contra o doping, nós conduzimos investigações completas de cada caso. Mas este caso não foi totalmente analisado. Além disso, trata-se de uma menor de idade. A investigação continua", comentou Adams.
Sputnik questionou especialista britânica Genevieve Gordon-Thomson sobre a demora da WADA de refletir sobre o teste de doping feito em dezembro de ano passado.
Por que, na sua opinião, demorou tanto tempo para a WADA refletir sobre um teste realizado em dezembro de 2021, especialmente em meio ao impasse político que está acontecendo neste momento entre a Rússia e Ocidente?
"Muitas perguntas podem ser levantadas em relação ao prazo. RUSADA deveria ter pressionado o laboratório sueco a informar em tempo útil, especialmente dado o seu estatuto como Comitê Olímpico Russo (ROC) e o simples fato de que Valieva estava a caminho de Pequim para competir nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022. WADA deveria, sem dúvida, ter sido mais rápida nas suas ações. A União Internacional de Patinação (ISU) teria assim o conhecimento das amostras que teriam sido coletadas. As três partes teriam tido acesso ao sistema de gestão e administração antidoping, que lhes diria onde e quando as amostras foram coletadas. Na minha opinião, cada uma dessas organizações são culpadas e têm questões a responder sobre este triste caso; tenham elas caráter político esportivo ou outro", comentou Genevieve Gordon-Thomson, presidente da Associação Esportiva do Reino Unido, vice-presidente da Associação Britânica do Esporte e do Direito e diretora do Centro de Pesquisa e Inovação para Esporte, Tecnologia e Direito da Universidade de Montfort.
Kamila Valieva, de 15 anos, participou na prova de patinação artística por equipes que ganhou medalhas de ouro.