Panorama internacional

'Pragmatismo e cautela': analista aponta caminho para diplomacia do Brasil com a crise na Ucrânia

Qual posição a diplomacia do Brasil deve adotar diante das tensões em Donbass? Especialista em estudos estratégicos da UFF falou sobre o papel do Itamaraty neste momento.
Sputnik
Ao falar sobre as operações especiais militares na Ucrânia, Vladimir Putin, presidente russo, foi claro: "A Rússia foi deixada sem opções".
Ele explicou que a Rússia não pode mais ficar indiferente diante das ações dos EUA e aliados da OTAN (Organização do Tratado Atlântico Norte), que ameaçam a segurança do país, e anunciou a realização de uma operação especial militar na região de Donbass.
Embora Putin tenha destacado que a ocupação do território ucraniano não está nos planos da Rússia, o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, se posicionou rapidamente sobre a decisão russa afirmando considerá-la "uma tragédia". O Itamaraty, por sua vez, apelou para uma "solução diplomática baseada nos acordos de Minsk", postura acertada no entendimento do especialista em relações internacionais Pedro Henrique Miranda Gomes.
Segundo o pesquisador, "a melhor posição para o Brasil é a cautela". Ele elogiou a nota do Ministério das Relações Exteriores e explicou que o pragmatismo sobre o direito internacional "está em linha com a diplomacia brasileira".

"O Brasil, enquanto uma potência regional, que não dispõe de um poder militar equiparado ao das grande potências, tradicionalmente, adota a defesa de soluções pacíficas para resolver litígios internacionais", comentou.

Para Gomes, a nota da chancelaria brasileira "aponta uma grave preocupação, mas essa é uma posição pacífica. O Itamaraty, é importante frisar, não fez nenhuma crítica a Putin. Nosso MRE [Ministério das Relações Exteriores] está fazendo um papel muito diplomático. O pragmatismo é um pilar da diplomacia brasileira e deve ser mantido neste momento".

Reação latina

Diversos líderes da América Latina (AL) se pronunciaram após a decisão de Vladimir Putin. Miranda Gomes entende que, nos próximos dias, "a AL, de uma forma geral, tende a seguir a postura brasileira, de maior cautela". A exceção, segundo ele, deve ser a Venezuela.
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"Quando houve uma ameaça à Venezuela de conflito com os norte-americano, situação em que o governo brasileiro manifestou apoio aos EUA, foi a Rússia que garantiu a soberania e a defesa venezuelana", analisou.

Tentativa de evitar conflito mundial

A Sputnik Brasil também questionou o especialista sobre as recentes declarações da representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova. Ela comentou que a situação em torno da Ucrânia não é o começo de uma guerra, mas que se trata, pelo contrário, de uma tentativa de evitar um conflito mundial.
"Em primeiro lugar, é muito importante: isto não é o começo de uma guerra. Nosso intuito é evitar o desenvolvimento de eventos que poderiam levar a uma guerra mundial. Em segundo lugar, é o fim da guerra", indicou a diplomata ao canal NTV.
Segundo Pedro Henrique Miranda Gomes, para entender a declaração de Zakharova é necessário compreender que há uma narrativa ocidental em jogo criada pela OTAN e seus aliados, cuja tendência é de alinhamento aos EUA.
"A narrativa que corre é que Putin quer um governo autocrático, e quer rivalizar com o Ocidente, e tem desejos imperialistas herdados da União Soviética. É uma narrativa política que vai sendo criada, mas ela ignora a dinâmica internacional que há anos se arrasta no Leste Europeu", afirmou.
Ainda segundo a análise do especialista, "essa polarização criada pela imprensa ocidental é falta de conhecimento histórico, às vezes, falta contexto".
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Mais cedo, Zakharova também apontou que foram os EUA quem decidiram não realizar diálogo com a Rússia sobre a Ucrânia e a segurança global, lembrando que "foi justamente o lado norte-americano que recusou continuar as negociações". Ela sublinhou que as negociações deveriam abordar temas como a segurança global, estabilidade estratégica e a atual situação.
Para o especialista, as declarações do MRE da Rússia mostram um fato evidente: mesmo após o lançamento da operação, "há a manutenção de algum espaço aberto para uma futura negociação". A Rússia quer que o Ocidente volte a sentar à mesa de negociações.
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