O ex-engenheiro naval, Jonathan Toebbe, abordou o Brasil há quase dois anos com uma oferta para vender documentos confidenciais sobre reatores nucleares norte-americanos que ele havia roubado do antigo estaleiro e fábrica de munições da Marinha dos Estados Unidos em Washington, segundo The New York Times.
Toebbe, 43, que foi preso em outubro e acusado de tentar passar informações sobre projetos de submarinos de propulsão nuclear para um agente disfarçado do Departamento Federal de Investigação (FBI) se passando por representante de um governo estrangeiro, se declarou culpado de uma acusação de conspiração para comunicar dados restritos em uma audiência na Virgínia Ocidental em 14 de fevereiro.
Ele enfrenta uma possível sentença de 12 a 17 anos e meio de prisão, de acordo com um processo judicial.
Sua esposa, Diana Toebbe, também foi presa em outubro por duas acusações de comunicação de dados restritos e uma acusação de conspiração para comunicar dados restritos, no entanto, ela se declarou inocente. A identidade da nação estrangeira que Jonathan e Diana Toebbe abordaram permaneceu em segredo.
Fotos de registro policial feitas pela Autoridade de Prisão e Prisão Regional da Virgínia Ocidental mostram Jonathan Toebbe e sua esposa, Diana Toebbe, 9 de outubro de 2021
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Segredos de submarinos 'à venda'
No ano passado, documentos judiciais revelaram que o casal pensava em um país rico o suficiente para comprar as informações confidenciais, não hostil aos EUA, mas ansioso por adquirir a tecnologia que eles estavam vendendo. O país em questão era o Brasil, segundo um alto funcionário do governo brasileiro e outras pessoas informadas sobre a investigação, citados pelo veículo.
Aparentemente, solicitar a adversários tradicionais de Washington, como Moscou ou Pequim, para adquirir os segredos foi considerado moralmente repreensível pela dupla.
Em uma mensagem deixada em um cartão de memória escondido em uma embalagem de Band-Aid, os Toebbes pediram US$ 5 milhões (cerca de R$ 25,8 milhões) em criptomoedas em troca de cerca de 11.000 páginas de informações, segundo o tribunal apurou no ano passado do agente do FBI Peter Olinits, que vigiava o casal.
"Esta informação foi coletada lenta e cuidadosamente ao longo de vários anos no curso normal do meu trabalho para evitar atrair atenção e passar clandestinamente pelos postos de segurança, algumas páginas de cada vez", dizia a nota no cartão de memória.
A divulgação de Jonathan Toebbe, segundo o relatório, ocorreu quando o então presidente Donald Trump e o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, apelidado na época como "Trump dos trópicos" por parecer imitar o presidente dos EUA em tom e estilo, fortaleceram a aliança entre os países. A oferta também veio enquanto o Brasil continuava lutando com seu programa de reatores nucleares submarinos, disse uma fonte.
Em abril de 2020, Jonathan Toebbe enviou uma carta oferecendo segredos roubados à agência de inteligência militar do Brasil, segundo a publicação. No entanto, autoridades brasileiras entregaram a carta ao adido legal do FBI no país que, em dezembro de 2020, fez com que um agente do departamento disfarçado de funcionário brasileiro ganhasse a confiança de Toebbe.
Finalmente, Toebbe, que havia trabalhado no programa de propulsão nuclear da Marinha dos EUA, teria concordado em depositar os documentos classificados em um local escolhido pelos investigadores. Inicialmente, ele queria negociar por e-mail, sendo posteriormente persuadido a armazenar os dados em cartões SD, que ele deixaria em locais designados como "pontos de coleta", disseram os promotores do caso.
Os cartões SD contendo os segredos estavam escondidos em um sanduíche de manteiga de amendoim, um pacote de goma de mascar e uma embalagem de Band-Aid lacrada, em entregas feitas em junho, julho, agosto e outubro, de acordo com documentos judiciais. Diz-se que os cartões incluíam projetos para os submarinos da classe Virginia movidos a energia nuclear da Marinha dos EUA, que incorporam tecnologia furtiva.
Jonathan Toebbe também ofereceu assistência técnica ao programa de submarinos nucleares do Brasil, alegando ter acumulado anos de experiência enquanto trabalhava para a Marinha dos EUA.
O casal, que morava em Annapolis, Maryland, foi preso em outubro de 2021, mas apenas no mês passado Jonathan Toebbe se declarou culpado.
Autoridades dos EUA, que disseram repetidamente que o casal não tentou vender os segredos para os principais adversários dos Estados Unidos, nem para seus aliados mais próximos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), originalmente procuraram divulgar o nome do país que Toebbes havia abordado, diz o relatório. No entanto, as autoridades brasileiras insistiram que sua cooperação com o FBI deveria ser classificada.
Ainda não houve nenhum comentário oficial da Casa Branca, Departamento de Justiça ou FBI sobre o relatório.