Em uma articulação do Ocidente, a Rússia foi expulsa do Conselho de Direitos Humanos em Assembleia Geral da ONU (AGNU), realizada nesta quinta-feira (7).
A resolução que suspende o país teve o apoio de 93 países e 24 votos contrários, incluindo os de Belarus, Cuba e China. Outras 58 nações, como Brasil, Índia e Arábia Saudita, se abstiveram.
Liderada pelos Estados Unidos e aliados europeus, a medida ocorre após Kiev acusar Moscou de supostas atrocidades na cidade ucraniana de Bucha. A Rússia classifica o caso como "provocação encenada", apontando diversas inconsistências.
Uma delas é que as imagens que mostram corpos de civis mortos em Bucha surgiram apenas quatro dias depois de as tropas russas deixarem a região, ocupada por forças ucranianas após as negociações de paz em Istambul, no dia 29 de de março.
Soldados ucranianos em um tanque durante a operação da Rússia na Ucrânia em Bucha, na região de Kiev, Ucrânia 2 de abril de 2022
© REUTERS / Zohra Bensemra
Algumas imagens ainda mostram vítimas com lenços brancos amarrado ao braço, um símbolo de identificação de não agressão.
Nesta quarta-feira (6), o jornal The New York Times (NYT) informou que verificou a veracidade de um vídeo que retrata um grupo militar ucraniano matando soldados russos em Bucha. Há pelo menos mais três soldados russos mortos com as mãos amarradas nas costas e faixas brancas em seus braços cercados por manchas de sangue.
Os assassinatos ocorreram no sudoeste de Bucha, após uma emboscada ucraniana em 30 de março, segundo a análise.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou, na última terça-feira (5), que o Ocidente está tentando sabotar as conversas entre Moscou e Kiev ao alimentar a histeria sobre Bucha.
Segundo ele, caso os EUA e seus aliados insistam na tese do "massacre" russo em Bucha, existe o risco de que as negociações entre Rússia e Ucrânia repitam o destino dos acordos de Minsk.
Para Bruno Beaklini, cientista político e professor de relações internacionais, o cerco político e econômico à Rússia não contribui em nada nas tentativas de diálogo e paz para o fim do conflito na Ucrânia.
Ele aponta ainda "hipocrisia" dos EUA em liderar o processo de expulsão da Rússia do órgão, citando que qualquer país com "centros ilegais de tortura" em território estrangeiro, "como a prisão de Guantánamo", não deveria ter o direito de fazer acusações sobre o tema contra outra nação.
"A suspensão da Rússia é no mínimo uma condição hipócrita. Não creio que a humanidade vá avançar em nenhum processo civilizatório se formos fazer uma competição entre o cinismo dos Estados, entre os interesses mesquinhos dos países", afirmou Beaklini à Sputnik Brasil.
Segundo o professor, não é recente o fato de a Rússia ser alvo de "severas acusações de violações dos direitos humanos".
"A UE se transforma em um aliado não estratégico, mas vassalo e submisso dos EUA, e avança no sentido de criar uma espécie de cerco da opinião pública, se não mundial, ocidentalizada contra a Rússia", avaliou.
'Brasil deveria apoiar investigação independente na Ucrânia'
Para o especialista em relações internacionais, a diplomacia brasileira "vem, corretamente, se posicionando contra sanções econômicas" promovidas pelo Ocidente, lembrando que as medidas, inclusive, "geram inflação" no país.
Ele aponta que o procedimento padrão deveria ser o de não aceitar o isolamento de nenhum país do mundo do sistema internacional. "Menos ainda se os EUA são os protagonistas dessas ações", acrescentou.
Beaklini afirma que o Itamaraty deve sempre se posicionar de maneira altiva, soberana e independente em sua política externa.
"O Brasil deveria e deve sempre defender a atuação da ONU ou das agências da ONU no sentido de conduzir uma investigação independente sobre o conflito da Ucrânia. Votar contra ou mesmo se abster nesta condição é delicado e complicado", disse.