Placas que identificam as áreas adquiridas pela mineradora Potássio do Brasil estão espalhadas por aldeias indígenas nos arredores de Autazes, município a 110 km de Manaus, capital do Amazonas.
Fontes ouvidas pela reportagem denunciam a abordagem truculenta da empresa para ocupar o território onde o povo Mura vive há séculos.
Segundo a publicação, a empresa canadense vem se estabelecendo na região porque pretende erguer um complexo de exploração de potássio, que ganhou força com a crise mundial de fertilizantes.
O principal empreendimento é a escavação, em Autazes, da maior mina de potássio já identificada no Brasil. Mas, além disso, ela quer explorar uma imensa área na bacia do rio Amazonas.
Desde 2010, a mineradora realizou 33 perfurações em Autazes, incluindo sondagens do solo, sem autorização, nas terras indígenas Jauary e Soares/Urucurituba — esta autodemarcada.
"Eles falam que o projeto está longe da terra indígena, mas sabemos que não é verdade, eles estão dentro de nossas áreas", disse um morador da região citado pela reportagem. A mineradora não reconhece a reivindicação e diz que o projeto não atinge o território Mura.
As denúncias também foram constatadas por representantes do Ministério Público Federal (MPF) e da Justiça Federal do Amazonas em uma inspeção realizada no dia 29 de março na região.
A expedição apontou que a mineradora pressionou e coagiu indígenas e ribeirinhos e os impediu de acessar suas antigas áreas.
"É muito grave, muitos deles estão impedidos de usar suas roças", afirmou o procurador federal Fernando Merloto Soave, que pede a anulação das vendas das terras e a retirada das placas.
Em um caso citado pelo processo, um indígena relatou pressões da Potássio do Brasil para vender seu lote por R$ 120 mil e receber outros R$ 900 mensais durante os trabalhos de perfuração da área. Ele rejeitou o negócio.
Em Autazes, a mineradora, que é controlada pelo banco canadense Forbes & Manhattan, estima explorar por ano 2,4 milhões de toneladas de potássio, usado na fabricação de fertilizantes.
Além da mina, com quase um quilômetro de profundidade, o projeto inclui a construção de estradas, um porto e uma fábrica de insumos agrícolas.
A empresa também identificou depósitos de sais de potássio em Itacoatiara (incluindo a comunidade de Novo Remanso) e Itapiranga e, em março, recebeu autorização da Agência Nacional de Mineração (ANM) para perfurar trechos em São Sebastião do Uatumã e Urucará, todas cidades no Amazonas.
O MPF e a Justiça Federal também apuram suspeitas de aliciamento e corrupção no processo de consulta indígena.
O InfoAmazonia enfatiza que, em março, o prefeito de Autazes, Anderson Cavalcante (PSC), viajou ao Canadá a convite da Potássio do Brasil, acompanhado da então ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
No mesmo mês, executivos da multinacional se reuniram com o presidente Jair Bolsonaro (PL). A pauta, segundo a empresa, foi "ajudar o Brasil a depender menos da importação de fertilizantes".