Panorama internacional

Intelectuais alemães clamam ao governo para que armas deixem de ser enviadas para Ucrânia

O fornecimento de armas para Kiev apenas prolonga o sofrimento dos ucranianos e põe o mundo sob o risco de uma Terceira Guerra Mundial, afirmaram artistas, intelectuais e políticos alemães em carta aberta.
Sputnik
A Alemanha deveria considerar o risco do conflito entre Moscou e Kiev se espalhar para além das fronteiras da Ucrânia e mergulhar o mundo em uma Terceira Guerra Mundial, foi o que afirmaram dezenas de figuras culturais alemãs ao chanceler, Olaf Scholz, em uma carta aberta pedindo que ele pare de enviar armas para a Ucrânia.
O risco de a operação especial militar da Rússia na Ucrânia se transformar em um "conflito nuclear" deve ser evitado a todo custo, disseram os coautores da carta, publicada na revista feminista alemã Emma, expressando sua esperança de que Scholz "lembraria [sua] posição inicial" e "não forneceria mais armas pesadas à Ucrânia, direta ou indiretamente". Em vez disso, Berlim deveria "fazer tudo" para ajudar a estabelecer um cessar-fogo "o mais rápido possível" e encontrar um "compromisso que ambos os lados possam aceitar".
"A entrega de grandes quantidades de armas pesadas [...] poderia tornar a própria Alemanha parte da guerra. Um contra-ataque russo poderia desencadear uma resposta sob o tratado da OTAN e [resultar] em um perigo imediato de uma guerra mundial", adverte a carta.
Os coautores da carta, incluindo músicos, artistas e cineastas alemães, alertaram que o fornecimento contínuo de armas às forças ucranianas corre o risco de ser o estopim para "uma corrida armamentista global com consequências catastróficas", inclusive para a saúde global e para as mudanças climáticas.
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O documento também foi assinado pela ex-vice-presidente do Bundestag (Parlamento alemão), Antje Vollmer, que anteriormente foi coautora de outra carta semelhante a Scholz, e Martin Walser, um dos autores mais proeminentes da Alemanha do pós-guerra e vencedor do Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão.
Os coautores dizem que consideram a operação militar da Rússia na Ucrânia uma "agressão", acrescentando, no entanto, que mesmo a "resistência legítima" dos ucranianos atingiu um nível "intoleravelmente desproporcional", uma vez que apenas prolonga o sofrimento dos próprios ucranianos.
Seria um erro pensar que a responsabilidade por um potencial conflito nuclear caberia apenas ao lado que o iniciaria, mas não aos que "fornecem abertamente uma razão" para dar esse passo, argumenta a carta. "Normas moralmente obrigatórias são de natureza universal", aponta o documento.
O apelo, que já foi aberto para ao público, já conta com mais de 20.000 assinaturas. Na semana passada, outra carta aberta pedindo a Berlim que suspendesse o fornecimento de armas a Kiev foi assinada por um grupo de políticos e figuras públicas alemãs, que também alertaram Scholz sobre os riscos de a Alemanha e outras nações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) se tornarem partes do conflito e arriscarem "outra grande guerra".
O governo alemão, até agora, não reagiu a nenhuma das cartas.
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No início de abril, Scholz disse que a Alemanha enviaria apenas armas "corretas e razoáveis" para Kiev, acrescentando que não havia planos de enviar armas "ofensivas", como tanques, apesar dos repetidos pedidos ucranianos. Sua posição aparentemente não caiu bem com a ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, que pediu que mais armas fossem enviadas a Kiev, acrescentando que "agora não é hora de desculpas".
A Alemanha e outros membros da OTAN fornecem armas à Ucrânia quase desde o início do conflito entre Moscou e Kiev.
Berlim deve enviar 100 veículos de combate de infantaria Marder (IFV, na sigla em inglês) para a Ucrânia. No início desta semana (25), o governo alemão teria prometido uma decisão rápida sobre o acordo, que ainda está pendente de aprovação pelas autoridades, segundo a Reuters.
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