Em entrevista publicada nesta segunda-feira (2) pela Folha de S.Paulo, Carlos Felipe Jaramillo falou sobre a crise na Ucrânia, a volatilidade dos preços do mercado internacional e as perspectivas da América Latina diante de uma possível fragmentação da economia global em blocos.
Em recentes reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, houve muitos comentários sobre como será a reorganização da economia a partir de blocos, diante do conflito na Ucrânia.
Organizações multilaterais também discutem como será o esforço dos países ricos para buscar fornecedores mais próximos e garantir suas respectivas regiões de influência sob controle.
Para Carlos Felipe Jaramillo, ainda é difícil ter certeza se esse movimento pode beneficiar a América Latina. "É muito difícil ainda dizer como o futuro evoluirá."
Ele avalia que, por um lado, a região latina é próxima de grandes mercados, como EUA e Canadá. No entanto "é difícil prever neste momento se isso será uma coisa grande".
O vice-presidente do Banco Mundial para a região da América Latina e Caribe disse estar preocupado que essa aproximação "possa levar a muitas restrições de comércio, que podem impactar o crescimento. Espero que possamos manter o comércio fluindo, de modo que a América Latina siga se beneficiando".
"A globalização e a alta massiva no comércio nos últimos 20 ou 30 anos têm sido extremamente boas para o desenvolvimento e a redução da pobreza em muitos países da América Latina", comentou.
Carlos Felipe Jaramillo também falou sobre a alta no preço das commodities. Segundo ele, "em tempos normais" poderia ser uma coisa positiva, mas não será, porque a maioria das colheitas "já está pré-vendida".
Ele avaliou que a alta de preços no último mês não será aproveitada pelos países latinos, incluindo o Brasil.
Para ele, outra questão é que a alta de preços complica a retomada da economia após a pandemia. "As famílias, que mal estavam se recuperando da forte crise dos últimos dois anos, inesperadamente precisam lidar com altas de preços de comida e energia", comentou.
Jaramillo falou ainda sobre as eleições presidenciais no Brasil, argumentando que a incerteza eleitoral prejudica as perspectivas do país em 2022. Para este ano, a previsão do Banco Mundial é que o país cresça 0,7%, enquanto a América Latina e o Caribe devem avançar 2,3%.
Ele enfatizou que "o Brasil teve um crescimento muito bom em 2021, de 4,6%. Mas, para este ano, estimamos um crescimento de 0,7%. E isso é em grande parte porque o ambiente externo se tornou mais negativo do que prevíamos, especialmente com as mudanças nos preços das commodities e com a expectativa de alta contínua nas taxas de juros pelo mundo".
Carlos Felipe Jaramillo, por fim, falou sobre a demanda por petróleo latino com a crise na Ucrânia.
"Apesar das vantagens a alguns poucos países, o impacto geral da alta do petróleo é muito negativo para a região. Primeiro porque a maioria dos países da América Latina e Caribe são importadores de petróleo, que é usado para muitas coisas diferentes. E a alta dos preços afeta as famílias", disse.