Em novo episódio que marca os recentes embates diplomáticos entre Brasil e EUA, diplomatas norte-americanos se mobilizaram para recusar uma proposta feita na ONU pelo Itamaraty.
Nesta semana, o Conselho de Direitos Humanos da ONU se reuniu em caráter de emergência para examinar a crise ucraniana.
A resolução que acabou sendo aprovada, inclusive com o voto do Brasil, dá um mandato para a Comissão Internacional Independente de Inquérito investigar "supostos crimes de guerra" na periferia de Kiev e em outras cidades ucranianas.
O texto aprovado também tratou do impacto do conflito sobre o abastecimento de alimentos no mundo, escreve o portal Uol.
O problema, segundo o governo brasileiro, é que a abordagem dada pelos autores europeus da proposta citava apenas uma parcela do problema: a interrupção da produção e exportação agrícola da Ucrânia.
Nenhuma referência era feita ao embargo imposto por potências ocidentais a bancos e ao comércio russos.
Para o Brasil, o rascunho da resolução era desequilibrado e enviesado. O Itamaraty julgou que as sanções do Ocidente contra a Rússia afetam o abastecimento de alimentos e de fertilizantes de uma maneira tão profunda quanto a incapacidade das exportações ucranianas.
O governo americano, porém, se recusou a aceitar um texto que tratasse de ambas as questões como semelhantes.
O Brasil ainda chegou a propor que a frase inteira fosse eliminada, o que tampouco foi aceito pelos autores da proposta. No fim, o texto original foi mantido.
Ao votar, a delegação brasileira pediu a palavra para lamentar publicamente o fato de que suas sugestões não foram incorporadas.
Na quarta-feira (11), o embaixador russo em Washington, Anatoly Antonov, falou sobre a crise alimentar no mundo. Segundo ele, os EUA "deliberadamente invertem a situação atual ao dizerem que a crise alimentar é resultado das ações russas na Ucrânia".
O diplomata notou que há obstinação de Washington em "não responder pelas suas falhas econômicas externas", afirmando que as restrições impostas à Rússia não prejudicam o fornecimento de alimentos e fertilizantes.
"Pelo visto, as tentativas de isolar o sistema financeiro russo e minar as possibilidades do setor de transporte não contam", acrescentou o diplomata russo.
Ele ressaltou que há uma preocupação profunda de Moscou "com a situação atual nos mercados alimentares internacionais".
Nesse contexto, de acordo com suas palavras, a Rússia tenta continuar cumprindo devidamente seus contratos de exportação de fertilizantes e produtos agrícolas.