A população maliana foi às ruas nesta sexta-feira (13) para protestar contra os nove anos de ocupação das autoridades francesas no país.
Em um ato no Monumento da Independência, os manifestantes voltaram a denunciar os assassinatos em Gossi, onde foi descoberta uma vala comum de moradores locais que teriam sido mutilados.
Entre os gritos de ordem, muitos acusavam o Exército francês de levar violência à região. "Milhares de crianças são vítimas de Macron"; "Macron, por que você precisou de seus drones?"; "Rússia para proteger a África"; "Macron é o açougueiro de Gossi", diziam alguns cartazes.
Essa não é primeira vez que a população ou autoridades do Mali acusam o Exército francês de tenta encobrir valas comuns em Gossi.
No último dia 5, Abubakar Sidiki Fomba, membro do Conselho Nacional de Transição (CNT) do país, disse que "o Exército francês mente e fabrica fatos. Se existem valas comuns, eles são os responsáveis", afirmou.
O membro do CNT ressaltou ainda que as autoridades malianas iniciaram uma investigação para procurar possíveis resíduos nucleares.
Malianos protestam contra a França e em apoio à Rússia no 60º aniversário da independência da República do Mali, em Bamaco, em 22 de setembro de 2020
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A suspeitas malianas começaram no fim de abril, quando Exército francês abandonou o campo de operações de Gossi e o entregou aos militares do país, como parte da retirada francesa da região.
As autoridades do país africano disseram que as tropas francesas esconderam uma vala comum com corpos mutilados. A França se apressou em culpar os russos, versão que foi rejeitada pelo Exército maliano, segundo declarações de autoridades do país no último dia 26.
"As forças francesas são culpadas de subversão ao publicar imagens falsas montadas para acusar o Exército maliano de matar civis", disse o governo em comunicado.
Em fevereiro, a França, o Canadá e seus aliados na Força-Tarefa Takuba anunciaram a retirada de suas tropas do Mali, após nove anos de ocupação, devido a "desacordos com as autoridades de transição do país".
O governo do Mali, desde então, denuncia as consequências da ocupação francesa. Em reiteradas ocasiões, autoridades do país acusaram o Exército francês de espionagem e violação do espaço aéreo.
Além disso, em fevereiro, o governo interino maliano disse que as ações de Paris tornaram mais fácil a atividade terrorista no país africano.
"Os militares da França dividiram deliberadamente o Mali e realizaram espionagem durante sua luta contra militantes islamistas", declarou, na ocasião, Choguel Maiga, primeiro-ministro interino do país, citado pela Reuters.
Segundo ele, a chegada das tropas francesas em 2013 não só dividiu o país como permitiu que jihadistas ligados à Al-Qaeda (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) se reagrupassem e continuassem realizando ataques.
As tensões na região atingiram seu ponto mais alto nas últimas semanas, com a Alta Autoridade da Comunicação do país africano suspendendo definitivamente os meios de comunicação internacionais financiados pelo Estado francês.
A junta que governa o país africano havia suspendido inicialmente as mídias em março, justificando que a imprensa francesa produzia alegações falsas de abusos do Exército do Mali.